No dia cinco de março de 1955, toda a nossa família mudava da Vila de Nossa Senhora do Rosário do Gentio para a cidade de Guanambi, deixando o velho e anelante povoado morrendo, paulatinamente, sob as águas da barragem de Ceraíma. Eu, já contava com cinco anos e alguns meses, um menino ainda, porém muito esperto para essa idade. A nossa mudança de endereço foi para uma casinha simples, construída pelo nosso pai, que se tornou numa aventura eletrizante e inesquecível. Naquele doce momento a nossa casa representava um belíssimo palácio, em vista do casebre em que vivíamos na vila dos nossos ancestrais. Não obstante a falta de quase tudo, ainda assim coabitávamos com as brincadeiras livres, leves e soltos num imenso largo da Igreja do Gentio.
Em Guanambi, descobríamos outras formas de brincar nas ruas, na única lagoa ali existente, nos rios intermitentes ou no caminho sinuoso da fonte d’água. Por conseguinte, a nossa mãe providenciou uma escola para nós. Assim, eu e o meu irmão mais velho fomos matriculados na escola particular do saudoso professor Antônio Amâncio da Silva, conhecido por “Tone de Bibinha” e, ali, passamos a conhecer as primeiras letras do “ABC”, tudo isso em conjunto com a tabuada. Nessa época, existia em nossa escola o castigo e, se necessário fosse, uma dúzia de palmadas em cada palma da mão não fazia mal. Mas, nunca eu levava isso a sério.
No ano de 1957 matriculamos no curso primário do “Grupo Escolar Getúlio Vargas”, onde realmente descobrimos novas janelas para o mundo-futuro. A nossa dedicada professora primária era dona Nelsa Luzia Teixeira, uma conhecida de nossa família. Nessa escola, com o tableau noir, ela nos ensinava soletrar palavras e fazer as quatro operações da tabuada. O meu caderno de caligrafia era um brinco de lindeza, pois sempre fazia questão de ter uma letra bonita. No recreio, as professoras reuniam os alunos na praça para a algazarra corriqueira.
Ali a gente brincava de jogar finca na terra molhada, de embiroscar as bolinhas de gude, de queimada com as meninas ou de jogar futebol com os outros meninos com uma bola de meia de calçar. Na hora de merendar na casa de Dona Anísia, era uma festa e tanto! De quando em quando apareciam arruaceiros querendo fazer arruaça, procurando briga e arreliando da gente. Rapidamente a zelosa servente da nossa escola acionava uma sirene antiga, com o toque de recolher, para que todos voltassem para as suas salas de aula. Ontem, na escola de minha saudosa infância não havia essa maldita ideologia de gênero e nós éramos estudantes felizes. Ser um menino educado é um produto de origem familiar, pois na escola se aprende ciências exatas, história e geografia. Infelizmente, nos dias de hoje, mandar um filho para a escola é um ato perigoso!
No passado, o nosso grupo escolar trazia o nome do estadista Getúlio Vargas e ficava na Praça da Bandeira. Há notícias nas redes sociais de que o antigo prédio do grupo escolar, agora desocupado, será a sede da Biblioteca Municipal de Guanambi. O tempo passa, mas não tem como esquecer das nossas ilustres educadoras: Nelsa Luzia Teixeira, Wanda Neves de Freitas, Enedina Costa de Macedo, Nice Amaral Guimarães Baleeiro e dona Ivone (Lila) Fernandes Ribeiro dos Santos.