Dário Cotrim

Infância: meu reino encantado

Publicado em 23/08/2024 às 19:00.

Terminei, agora mesmo, a leitura de um belíssimo livro de reminiscências. Não conheço a autora, que se chama Maria Beatriz Oliveira Abreu, entretanto a sua pequenina obra literária, tornou-se um gigante no amontoado dos livros existentes nas bibliotecas de nossa Montes Claros. O livro “Infância: meu mundo encantado” é, certamente, um doce encanto para quem viveu os anos em que não havia a internet, pois, a comunicação naquele tempo era custosa e muito difícil. Sem o telefone, sem o aparelho de rádio e sem a televisão, havia somente o hábito das brincadeiras em terra batida. Pois bem, a escritora Maria Beatriz traz para o presente as boas lembranças de um passado feliz e glorioso e, com isso, ela deixa renascer nos corações das pessoas amadas, um bocado da infância de cada um deles. Talvez seja por isso mesmo que o seu livro se tornou uma obra necessária, em cada residência, em cada escola e em cada biblioteca.

Passar as férias na roça dos avós e viver os melhores dias da vida com os familiares e amigos, são momentos que não tem a etiqueta de preços. Quer na fazenda Cabeceiras, do saudoso Titiãozinho, ou na quinta do Guiné da sua benévola madrinha Zinha, os dias de entretenimentos tornavam-se inesquecíveis para a algazarra de toda a meninada. 

A capa do livro traz uma “foto de família”, em frente da sede de uma das fazendas citadas aqui pela autora. É importante observar-se que nesta fotografia, em preto e branco, as pessoas permanecem atentas para o registro fotográfico. Era este um momento mágico e, também, uma circunstância rara de ocorrer nos lugares mais distantes das zonas de urbanizações. Depois de serem fotografados, era hora do lanche. A meninada, impaciente, invade a cozinha de fogão de lenha para deliciar-se do famoso e gostoso leite caramelado com rapadura. Dizia Maria Beatriz que a sua avó “derretia raspas de rapadura e deixava queimar um pouco, colocava leite quando a calda caramelada derretia, o leite já estava grosso, encorpado e delicioso”. Tudo isso era muito bom! Assim, ela nos afirma. 

Na verdade, o uso e os costumes de uma época são quase unanime para todas as regiões em torna da cidade grande. Não só a Maria Beatriz, mas todas as meninas e meninos, daqueles tempos, tiveram uma infância diferente dos bambinos de hoje. As roças dos nossos antepassados estão todas fragmentadas e, os engenhos de cana-de-açúcar, os fornos de farinha de mandioca, os carneiros, os monjolos e as rodas de água, estão desaparecidos da vida das pessoas do campo, haja vista que esses instrumentos de trabalho estão todos maquinizados para o uso.

Maria Beatriz, além de memorialista, é também poetisa. Os seus versos, no livro “Janelas da Vida”, são cheios de ternura e amor. Os seus poemas são escorreitos, escritos no estilo lírico-romântico perfeito, sem ostentação literária e bem alinhavados na urdidura do amor e da paixão. Alguns dos seus poemas retratam a intolerância das pessoas no cotidiano universal. Mas, por outro lado, a natureza está presente em quase todos os recantos de sua arte literária. Assim, como você, nós também adoramos as “janelas”, pois cada uma delas nos conta uma bela história de vida. A sua infância, vivida no reino encantado dos tempos de antanho, com as falas peculiares e a personalidade ímpar e humana, retrata a singeleza de suas ações. Parabéns, Maria Beatriz, sucesso sempre! 

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