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Quinta-Feira,21 de Novembro
Dário Cotrim

Ferro de passar ou de engomar

Publicado em 09/12/2022 às 23:54.

Quando eu era menino, de calças curtas e pés no chão, a minha mãe sempre me chamava para o manejo do fole do ferro de passar. O fole soprava o carvão em brasas, que esquentava o ferro para uso cuidadoso no alisar das peças de roupas. No princípio era um ferro de passar de uma boca só, simples, leve e de fácil manuseio.  

Com o passar dos anos, a minha mãe ganhou do meu pai, um belíssimo ferro de passar, com sete bocas e com design moderno para a época. Era um luxo para a nossa casa! Passar roupas, ou engomar panos, representava um divertido entretenimento de final de semana para todas as donas de casa da vilazinha onde nós morávamos.

É importante que se diga que a história do ferro de passar começou lá pelo século IV, no período em que os chineses utilizaram de uma panela de ferro, cheia de carvão em brasa, para alisar os panos de linho, os de seda e os de algodão. Estampava, finalmente, o primeiro protótipo do ferro de passar.  

Com o andar da carruagem, já no século XII, os europeus passaram a usar uma caixa de ferro cheia de carvão em brasa, que mais tarde fora substituída por pedaços de metal aquecidos, para essa mesma finalidade. Era pesada e de difícil manuseamento. Em vista disso, a indústria metalúrgica investiu na produção do ferro de passar assim como o conhecemos nos dias atuais. 

No passado, além das costureiras, as lavadeiras e passadeiras tomavam conta das roupas das famílias abastadas, muitas vezes acumulando funções de costura e limpeza da casa. Era um trabalho pesado para as mulheres escravas, que ocupavam em muitos dias da semana na mesma lida.  

No começo do século XIX, Jean Baptiste Debret notava que “uma família rica tem sempre negras lavadeiras e uma mucama encarregada especialmente de passar as peças finas, o que a ocupa pelo menos dois dias por semana, pois uma senhora só usa roupa passada de fresco e renova mesmo sua vestimenta para sair uma segunda vez de manhã”. 

Por conseguinte, constatamos a necessária utilização do ferro de passar como um instrumento doméstico indispensável para as donas de casa. O ferro de passar, com as suas modificações no formato e, também, na forma do uso para os tempos modernos, ganhou o apreço das passadeiras das mudas de roupas, que ainda existem na labuta de alisar e engomar peças de vestir e vestimentas para cama e mesa, desde o tempo de antanho. 

Com o encetamento da energia elétrica, foi difundido o uso de ferro de passar aquecido por resistência energizada. Do mesmo modo, isso já no ano de 1924, surgiu o termostato regulável, que permitia adequar a temperatura do ferro de passar ao tipo de tecido e assim evitava a queima da roupagem. 

“Apesar de o ferro elétrico ter sido uma ótima invenção, na época de seu lançamento ele não obteve o sucesso esperado, pois a maioria das residências daquela época não dispunha de energia elétrica, e as que contavam com esse recurso somente podiam usar o novo instrumento à noite, porque durante o dia as empresas de distribuição de energia suspendiam seu fornecimento à população.  

Para não alterar os hábitos da atividade doméstica, a população preferia continuar usando os mesmos recursos utilizados até então. Porém, com a melhoria no fornecimento de energia elétrica, o produto se tornou um produto elétrico indispensável em qualquer residência. No Brasil a nacionalização desse produto ocorreu somente durante a década de 1950; antes disso, o abastecimento do nosso mercado interno era feito através da importação” (Wikipédia).

Como parte do mostruário de objetos antigos do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, o visitante poderá observar uma pequena coleção de ferros de passar, todos eles de épocas diferentes e com a sua história própria.  

Ah, como me lembro de minha mãe gritando: “Darim, vem tocar o fole pra esquentar o ferro”.  

E, lá ia eu atender o solicitado de minha saudosa mãe, e rápido, para evitar o seu beliscão que durava dias a fio, em meu franzino braço de menino aperaltado. Doía muito, é verdade, mas eu tenho muitas saudades daqueles tempos que jamais serão esquecidos. A propósito, esta crônica que faço hoje é dedicada a dona Tereza, uma passadeira de roupas ainda nas suas funções em atividades.  

Obrigado, dona Tereza, que Deus lhe dê muitos anos de vida!

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