O artesanato de cerâmica no Norte de Minas, principalmente na região do médio Jequitinhonha, é um dos mais fantásticos de todos existentes por este Brasil. Basta olhar para o trabalho manual de dona Maria Lira Marques, analisar suas peças de barro com a forma marcante nas expressões do rosto, sobretudo do índio e do negro, para que possamos entender o valor de sua criação na argila, da qual a laboração foi-lhe ensinada pela dedicada “velha Joana”.
Assim, o fascínio das peças coloridas do Vale do Jequitinhonha, região que viveu dias de riqueza e de prosperidade nos séculos XVII e XVIII, vive, hoje, uma fase bem distinta, localizado que está na área de ocorrência de secas e outras diversidades climáticas. As belíssimas peças decorativas e utilitárias, criadas pelos artesãos norte-mineiros, moldadas no barro as formas com caras e caretas, embelezam as paredes e estantes das casas por esse mundo afora.
Na região de Água Boa, município de Rio Pardo de Minas, a cerâmica utilitária tem moldagem do barro na formação das panelas, potes, bilhas, canecas, pratos e jarras, entre outras do cotidiano das pessoas que por lá moram, representando sua realidade econômica e social, com suas crenças e mitos.
Dona Josefa Antônia de Souza, antiga artesã desta comunidade, certa vez nos disse que “o trabalho em moldar a argila foi a vó da gente que ensinou pra gente o ofício de fazer os potes, então a gente ficava na beirada dela, olhando pra ela, pra ver como ela ia endireitando os potes”. Era a magia do aprendizado das gerações de pai para filho.
“Não é apenas a necessidade do trabalho para prover o sustento dos filhos teus. Nem, ainda, a beleza que tem o fino entalho nesta peça feita pelo pequeno Matheus. Não! Aqui nesta comunidade de Água Boa, o trabalho da terra que o barro amontoa é feito com muito amor. Benza a Deus!” (do livro As Artesãs do Barro, de Dário Teixeira Cotrim).
As moças-namoradeiras, peças de barro que ficam nas janelas das casas, graças à força de expressão estética, à originalidade temática e formal, tudo isso misturados com os coloridos das roupas e dos adornos que enfeitiçam o gosto pela arte da beleza, fazem com que o artesanato da cerâmica montes-clarense torna-se um dos mais importantes do Estado de Minas Gerais.
Em tempos passados, dona Maria Dionísia Cardoso foi a mais engenhosa na manipulação da argila para fazer potes, moringas e bilhas. Dionísia era a mãe da artesã Rôxa (Ana Maria de Castro) e da artesã Cida (Maria Aparecida Macedo Santos), as duas mais festejadas no artesanato de nossa terra.
Para valorizar o trabalho dos artesãos é que o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC) criou o “Espaço do Artesanato Saul Martins”. Também é nosso desejo a criação do “Empório das Artes”, onde as pessoas possam adquirir uma lembrança da região norte-mineira e do vale do Jequitinhonha.
O mestre Saul Martins era natural da cidade ribeirinha de Januária, publicou vários livros destacando-se o fascínio do folclore mineiro na magia das nossas tradições e dos nossos costumes. Ao relatar as principais conclusões sobre o desenvolvimento da cultura negra, na produção do artesanato, disse ele que: “se houve, ele era muito pequena e quantitativamente inexpressiva”.