Dário Cotrim

É bom ser um bibliófilo

Publicado em 02/12/2022 às 22:08.

Dentre tantas coisas que tenho participado, ainda posso dizer que sou um velho bibliófilo. Hoje, um velho bibliófilo bem-conceituado nas bibliotecas. Todavia, não tenho mais o acervo de 1.500 livros que antes fazia parte de minha coleção particular, pois quase todos eles foram doados ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Mesmo assim, sinto-me um bibliófilo feliz e realizado.

No meu mundo da bibliofilia, ainda conservo cento e vinte e seis livros por mim prefaciados, além dos meus cinquenta e quatro publicados ao longo dos meus trinta e oito anos de convivência com a literatura e afins. Não é nada fácil a vida de um bibliófilo, não obstante a existência dos prazeres durante uma boa leitura no aconchego do seu escritório. Nesta perspectiva, a narrativa dos assuntos torna-se envolvente e encantador ao mesmo tempo.  

Apesar disso, existe, nos livros, o risco de contaminação, isso devido ao acúmulo de bactérias e de outros microrganismos viventes nas suas páginas, que podem causar enfermidades perigosas como o sarampo, a varíola, a escarlatina, a conjuntivite e a tuberculose. 

Colecionar livros é um ato de amor. Não é recomendável fazer um “ajuntamento” deles em um canto qualquer da morada, senão o armazenamento com a catalogação das espécies, tendo em vista as suas múltiplas características. Colecionar e cuidar dos livros é muito mais aprazível e gratificante do que muitos possam imaginar. Publicá-los então, é a realização daqueles que gostam de escrever.  

Sonhar é querer e querer é poder! Portanto, falar de livro é o melhor colóquio que ele próprio possa nos oferecer. Proseando ou versificando são momentos inesquecíveis no cenário das palavras – soltas ao vento – quando se folheia as suas páginas amareladas e recheadas de letrinhas enfileiradas.

A emoção de reencontrar com um velho in-fólio, perdido no tempo e no espaço de um rebotalho, tem lá as suas compensações. Todo bibliófilo tem o seu livro de cabeceira de cama, aquele que nunca é esquecido para uma leitura a sós. Uma leitura silenciosa até a chegada do sono. A bem da verdade, é preciso dizer que o livro é um santo remédio para recuperar o adormecimento. 

Livros não gostam de poeira e nem de mofo. Também não gostam das traças que rapidamente estragam as suas páginas, danificando-as em seus textos e até destruindo-as por completo. Portanto, é preciso cuidar com amor e carinho os livros de sua coleção. Na verdade, os livros são os melhores amigos do homem; os diletos companheiros de solidão; os comparsas do contentamento e os cúmplices do triunfo. 

O poeta Wanderlino Arruda sempre comenta que há três coisas que não combinam com os livros: a traça, a água e a viúva. Assim sendo, tem a história daquele bibliófilo que desejava comprar um livro de alguém que constantemente lhe dizia que não venderia o livro em questão. “Pois eu hei de comprar seu livro! – Como, se eu não o vendo por dinheiro algum? – Não faz mal, espero. Comprarei de sua viúva”. Pois é, Wanderlino tem razão no que diz. 

Hoje, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros está encadernando, em pranchetas azuis e com registros dourados e nominais, todos os exemplares da coleção “brasiliana” e, em razão disso promovendo a conservação deles nas prateleiras das estantes. A nossa bibliografia é composta de mais de duzentos exemplares, raríssimos, de obras sobre a história da colonização e do desenvolvimento brasileiro. Essa coleção foi doada pela associada Terezinha Gomes Pires, assim como todos os outros livros e objetos que compõem o Memorial do patrono, o bibliófilo Simeão Ribeiro Pires.

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