Sempre que a saudade dos bons tempos de mocidade bate no peito da gente, as lembranças de outrora, dos cinemas de Montes Claros, afloram com um gostinho de doces recordações. Nesse ínterim, eu procuro na minha coleção de filmes clássicos algo para me entreter nesta tarde chuvosa e recordar momentos eternos. Desta vez deparei-me com o genial filme “Desejo”, uma película de 1958, em preto e branco, que eu assisti pela primeira vez no saudoso Cine São Jorge, de propriedade do padre Celestino Pinheiro de Oliveira, em Guanambi (BA).
“Desejo” (Desire Under The Elms) é um filme surpreendente. O título no primeiro momento sugere uma película inadequada para se ver no círculo familiar, como se fosse “Amor & Sexo”, de Fernanda Lima, na Rede Globo de Televisão. Não é isso. O filme “Desejo” é lindo, tem sentimento e revela uma paixão amorosa fora do controle da vida real. No release, o espectador mais atento encontra a seguinte explicação para a apresentação da sinopse: “A empolgante peça de Eugene O’Neill sobre uma família desfeita pela ambição, explode na tela, num empolgante filme estrelado por Anthony Perkins e Sophia Loren. Perkins é Eben, o filho do fazendeiro que espera o dia em que herdará a propriedade de seu tirano pai viúvo (Burl Ives). Mas o pai de Eben arranja uma nova esposa e anuncia que vai deixar a fazenda para ela. É quando surge a paixão entre Eben e sua nova madrasta (Sophia Loren, em sua estreia em Hollywood), numa ardente noite de volúpia e raiva”. Acompanhar a interpretação de Loren no cinema é o mesmo que assistir a Pelé tratando uma pelota de couro nos anos dourados da nossa Seleção Canarinho.
Hoje em dia, o cinema deixou o lado dócil da fantasia e amável das cenas cênicas para atrair os jovens para a violência e a intolerância dos dias atuais. Como se não bastasse “a vida como ela é” nas periferias das grandes cidades. Os faroestes de antigamente tinham excessos de tiros, ao contrário dos de hoje, numa onda de violência incontrolável que acontece nos cinemas e na televisão. O entretenimento sadio é uma maneira de acalmar o coração no peito e a alma no corpo e não a cobiça do convívio com os horrores dos filmes de terror.
Portanto, é muito gratificante viver e conviver com a arte do admirável Burl Ives. Enquanto isso, os astros Loren e Perkins mostram insegurança, haja vista que era a estreia deles no cinema de Hollywood. Por outro lado, o talentoso Ives se consagrava como astro-rei na conquista do público cinéfilo de outrora e do de agora. Com a trilha sonora arrebatadora de Elmer Bernstein, o filme brilha com uma fantástica história de paixão do mais alto preço já pago pelos prazeres do pecado. Por tudo isso, podemos dizer que o filme “Desejo” esplandece com a história de uma paixão deflagrada, com a tentação irreprimível e o desejo do amor infinito. Vale a pena ver de novo!