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Sábado,23 de Novembro
Dário Cotrim

De saco cheio

Publicado em 08/11/2024 às 19:00.

Tudo que é demais “enche o saco”. Nos tempos das vacas gordas, os embornais de couro, embora normais, andavam pendurados nos animais entupidos de rapadura. Quer dizer: de saco-cheio. Todo viajante andava com a tropa de sacos cheios, e sem receio de ser roubado pelos poucos meliantes que ainda existiam pelas veredas do bruto sertão. Mas, a citação aqui se refere ao “saco cheio de Burnout”, uma síndrome caracterizada por um sentimento comum de ansiedade ou depressão. Suster-se de saco-cheio das impertinências é o mesmo que não aceitar as coisas como elas são. Sabemos, e não é novidade para ninguém, que o mundo político a cada passo dado já é o limite do saco-cheio de alguém. As disputas das mundanas no cenário político, parecem um circo em perfeita ebulição a cata de votos. É diversão para léguas, e mais léguas de animação nas ruas e nas telinhas da televisão. O bom mesmo é achar graça da nossa desgraça vinculada nas redes sociais. Por que se aborrecer?

Na verdade, tudo que é danoso na vida útil de uma pessoa, é o bastante para encher o saco dessas mesmas pessoas. Imagine, agora, quantos “santinhos” foram distribuídos nas ruas e outros tantos ofertados a você neste período que antecede as eleições para prefeito e vereadores? Já parou para pensar? Antes, porém, quando eu era menino de calças curtas, eu gostava de colecionar essas estampas, colando-as em um caderno espiral para a apreciação dos colegas em sala de aula. Naqueles tempos, os retratos impressos no oitavado transmitiam segurança e esperança de uma vida melhor para uma população mais carente. Hoje – ó coitados – é cada figura esquisita e sem nenhuma expressão lógica para apresentar e/ou representar o seu eleitorado na Câmara Municipal. Muito triste!

Certa vez, o meu vizinho Ayer David Cerqueira pendurou no muro limite de nossas casas, um saco de pano contendo algumas mangas de poupa suculenta, rosadas e bastante cheirosas e apetitosas, para mim e para os meus. Assim, nós saboreamos aquelas frutas drupas num repente. Era preciso devolver o saco de pano e lhe agradecer pela gentileza. Como não tinha nada em casa que pudesse lhe oferecer, apelei para a minha mania de trovador e lhe escrevi essa epigrama: “Gostei muito das ‘mangas’ contidas no saco; volta o saco vazio – sei que é um gesto feio – É que não há nada aqui para te encher o saco. Portanto, não vás receber o teu saco cheio. Um dia – quem sabe? – Sem receio, eu arregaço as ‘mangas’ e te encho o saco”.

Aliás, é o que queremos fazer nos dias de hoje: é encher o saco daqueles que vivem enchendo o nosso saco. Como se sabe que saco vazio não fica em pé, então vamos encher o saco para aqueles que continuam a nos aborrecer. As questões polêmicas – política, futebol e religião – são pratos cheios para encher o saco de quem quer que seja. É bem verdade que a figura idiomática da tempestade é feita metaforicamente em um copo cheio d’água. Sendo assim, encher o saco ou aborrecer as pessoas, somente os políticos têm essa primazia no conceito popular. Que Deus nos livre deles!

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