Dário Cotrim

Cultura

28/05/2022 às 00:12.
Atualizado em 28/05/2022 às 11:13

A leitura é algo que incomoda muita gente, não obstante os que não mais se importem com ela. Hoje as pessoas não leem por vários motivos. A televisão, por exemplo, é um de seus piores inimigos, isso sem falar na força avassaladora da internet, quando mal utilizada. Aliás, o que não faltam agora são motivos para não se ler nada. E o mais agravante é que ninguém tem tempo para a leitura. Um pensador norte-americano chamado Jim Rohn disse certa vez: “Tenho pena das pessoas que têm um restaurante favorito, mas não têm um autor ou livro favorito. Pois elas sabem onde alimentar seu corpo, mas matam de fome a sua alma”.

A partir desta colocação de Jim Rohn, imaginem vocês, caros e raros leitores, como está se sentindo, neste momento, este neófito escriba do Gentio: frustrado! É claro. Sinto-me frustrado e deprimido, haja vista que os meus 53 livros, escritos e publicados, ainda não tiveram a atenção dos confrades e nem dos amigos e muito menos a divulgação necessária na mídia montes-clarense. 

Comumente os presumíveis leitores são hoje indivíduos pacatos que vivem num isolamento necessário. Eles precisam de silêncio e de muita concentração. Acima de tudo, eles precisam de paz de espírito para absorver as essências do belo que, por certo, nunca destoariam das sutilezas contidas nos livros em que estão lendo. Há, todavia, leitores para todos os gostos, mesmo sabendo nós que são eles em números bastante reduzidos. 

Mas, encontrar-se em lugares dedicados integralmente à leitura não é, tão somente, um privilégio para os leitores, como também é uma evasiva aos estudos literários. Isso, também, acontece com os pesquisadores do tempo. A qualquer tempo ou a qualquer hora.

Nesse sentido, eu tive o aprazimento de visitar o vetusto casarão do Instituto Geográfico e Histórico do Estado da Bahia, na mística cidade de São Salvador. Defrontei-me ali, completamente encantado, com os seus magníficos salões. Com as suas estantes luxuosas em que guardam as mais raras obras literárias. Com as escrivaninhas todas elas abarrotadas de preciosidades bibliográficas e com os retratos dos grandes vultos de nossa história que estavam colocados em pontos estratégicos do edifício.

Nada, nada me deteve. Nesta hora, fui direto a uma escrivaninha em que trabalhava o velho zelador da casa, quando lhe solicitei alguns exemplares das revistas editadas pela entidade, onde eu deveria pesquisar fatos históricos sobre a trajetória da cidade de Montes Claros. Confesso que garimpei pouquíssima coisa, mas o suficiente para melhorar o meu trabalho de pesquisa.

Longe de esmorecer, em virtude às dificuldades. Aliás, dificuldades essas inerentes às pesquisas, confesso que foram os momentos mais sublimes, porque ali eu sentia a presença espiritual do poeta Castro Alves e do jurista Rui Barbosa. Numa mesa, ao lado, eu visualizava a figura ímpar do historiador baiano Teodoro Sampaio. Por que não dizer também da presença do frei Vicente do Salvador, de J. O. R. Miliet de Saint’Adolfhe, de João Guimarães Rosa, de Auguste de Saint-Hilárie, de Aires de Casal, de Simeão Ribeiro Pires, de Jean de Lery, de Helena Lima Santos, de João Emanuel Pohl, de João Capistrano de Abreu, de João Gumes, de Felisbelo Freire e, pasmem senhores, do saudoso historiador Domingos Antônio Teixeira.

Então, podemos dizer o que disse o professor Wanderlino Arruda prefaciando o nosso livro História Primitiva de Montes Claros, que “... o homem se impõe como quase dono da eternidade. Lendo, somos conterrâneos de Abrahão, de Isac e de Jacó. Lendo, vivemos e convivemos com Sócrates, Vergílio, Dante, Machado de Assis”. Bem inspirado nestes princípios, confesso, agradecido, pois estive vivendo de sonhos quiméricos, com a sua divina pureza e com o sabor do seu doce saber.

Com legítimo orgulho saí dali, levando na minha bagagem um exemplo de sabedoria, e no coração o vivo desejo de propô-lo, quando assim conviesse, aos letrados de minha terra. E o que ora faço, em ocasião que não pudera ser mais bela nem mais solene que esta, só o tempo saberá. Portanto, imitemos sem constrangimentos, caros confrades das letras e das artes, os grandes próceres da nossa cultura e da história de nossa terra.

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