Grão Mogol é uma cidade fecunda em histórias e de “estórias”. Também de bons historiadores, evidentemente. Pois, foi lá que nasceram dois talentosos gênios da literatura norte-mineira: Lindolfo Rocha (Maria Dusá) e Manuel Esteves (Grão Mogol). Em “Maria Dusá”, obra prima de Lindolfo Rocha, o autor inicia o seu romance dizendo que “Abria-se para a nascente o velho casarão da Lagoa Seca”. Nesta frase introdutória, encontramos a alma do sertanejo com os seus lamentos, as suas esperanças e os seus dissabores. Por outro lado, o escritor Manuel Esteves, que sempre preocupava com os fatos históricos mais importantes da região, fazia suas crônicas sobre o relacionamento político da cidade com as vilas e os povoados vizinhos. Agora, José Roberval Pereira, num empolgante livro descritivo, vem narrando os fatos mais hilariantes sobre as tradições e as origens do povo grão-mogolense.
Em vista disso, o livro “Calça Furada – Contos e Causos” trata-se de relatos memorialistas. São dezenas de “causos”, curtos e divertidos, sempre com uma boa pitada de humor no melhor estilo dos mineiros. Não falemos aqui do traço literário de Roberval, que é elegante, criativo e sutil e que todo grão-mogolense já conhece. Mas, falemos um pouco o que nem todos sabem. Falemos do talento criativo do autor em produzir um livro-documentário que certamente vai preservar a história contemporânea da cidade e da região. Nota-se que o trabalho literário de Roberval é um retrato do povo mineiro e que deverá marcar época nos meios catrumanos.
Este livro, em versos e prosa, é uma reconstituição fiel de uma época ainda nos seus melhores momentos, em que se narra o casamento perfeito da arte com o saber. Tudo com o intuito de preservar e valorizar os costumes e as tradições de um povo. Ao tempo em que, por Grão Mogol passaram os bandeirantes e, noutros momentos, os garimpeiros em busca de fama e de riqueza. Podemos afirmar com absoluta convicção que o povo grão-mogolense tem hoje um livro que expressa o cotidiano citadino com graça e enlevo em todos os seus segmentos. Vê-se, claramente, que a “história é a geografia no tempo e a geografia é a história no espaço”. (Elisée Réclus).
Dentre as muitas oportunidades que o tempo nos oferece, além daquela de retornar ao passado, é a de ler de bons livros. Livros, livros à mão cheia, assim como bem disse o nosso poeta maior: Castro Alves. Por isso, a alegria de ler “Calça Furada – Contos e Causos” e com ele conhecer um pouco mais da beleza histórica do povo grão-mogolense, é muito gratificante. Podemos, também, dizer que o livro de José Roberval Pereira é uma coletânea de causos e poemas. Ele traz a beleza da paisagem norte-mineira e a essência dos fatos com seus diferentes valores sociais. A “Calçada da Cultura” pode e deve ser encarada como um bem do patrimônio imaterial. Será assim para preservar no tempo os eloqüentes depoimentos sobre a grandeza deste povo. Tudo isso vem concretizar as fantasias criadas pelos imaginosos garimpeiros do rico cascalho diamantífero e o respeito às tradições religiosas herdadas dos nossos queridos antepassados.