Dário Cotrim

Bolachas ‘Maria’

Publicado em 10/11/2023 às 22:17.

Quando a gente era menino pequenino, tudo nos pericia uma monstruosidade em tamanho: a casa era grande, a mesa enorme e as cadeiras altas com os encostos mais alto ainda. Em nossa casa, nada era diferente. Eu e meu irmão mais velho, dormíamos numa só cama de solteiro, patente, sem nunca nos reclamar, para os nossos pais de um catre mais espaçoso. Era assim porque, a ilusão das coisas existentes não chegava para nos perturbar senão para a nossa alegria e admiração de momentos inesquecíveis. 

Assim que eu comecei a entender as primeiras letras do ABC, a curiosidade levou-me à necessidade de saber o nome das coisas, das pessoas e, também, dos animais. Na escola, a gente aprendia a soletrar as palavras num ritmo arrastado, quase parando, para a sua fixação em definitivo. Quem não se lembra de haver, um dia, na classe, soletrado os vocábulos comuns de: me–sa, ca–dei–ra, bo–la–cha e tantos outros amontoados de palavras no único caderno de caligrafia? Nota-se que, ainda havia um desenho vasado para cada objeto, seguido de sua palavra correspondente. O desenho, a gente aproveitava para pintar com lápis-de-cor. Era uma festa!

Como sempre, em nossa humilde morada, ao levantar-me pela manhã para ir para a escola, na hora do café, o nosso pai, que era comerciante de secos e molhados, havia trazido do seu comércio um pacote de bolacha “Maria”, que era uma novidade em comparação com os biscoitos fritos de minha dadivosa avó. Já na escola – Grupo Escolar Getúlio Vargas – a minha professora, Nelsa Luzia Teixeira, fora premiada com uma das bolachas, que havia levadas no meu embornal, para serem manducadas na hora do recreio. Como a gente pensa que a professora é obrigada a saber de tudo, eu logo lhe perguntei: - Professora, quem é a Maria da bolacha?

Em poucas palavras, disse-me ela que, era uma mulher muito bonita e a sua história registra que fora casada com um príncipe e assim os dois viveram felizes para sempre. Nesse momento não se falou mais nada sobre o assunto. Entretanto, questionando a minha saudosa mamãe, quando em casa cheguei, obtive dela uma resposta mais condizente e mais consoladora: - Maria, era a mãe de Jesus! 

Mas, não era não! Na verdade, aquele nome impresso nas bolachas representava a nobreza da Inglaterra. Era o nome da jovem Maria de Alexandrovna, uma belíssima grã-duquesa, natural do grande Império Russo, que se casou com o inglês Alfredo Ernesto Alberto, o Duque de Edimburgo, no dia 23 de janeiro de 1874. Para celebrar o ditoso casamento imperial, que ocorreu na Inglaterra, a panificadora Peeck Freans mandou que se gravasse em todas as bolachas servidas na cerimônia o nome de “Maria”. Assim foi estampado no meio das bolachas, de forma boleada, essa homenagem simples e duradoura aos jovens nubentes e que, depois, eles foram felizes para sempre, como conjecturara a minha saudosa professora da escola primária. Logo, aquele tipo de bolacha se tornou o preferido no chá-das-tardes dos ingleses. Apesar de ter sido criada na Inglaterra, a bolacha “Maria” não se tornou muito popular naquele país, como deveria ter sido. Todavia, ela conquistou mais sucesso em outras plagas da Europa, principalmente na Espanha e em Por
tugal. Depois, a sua fama se espalhou pelo mundo e ainda é sucesso universal.

Não foi dessa maneira que a minha professora de primeiras letras, Nelsa Luzia Teixeira, expressou, para comigo, os acontecimentos sobre o meu questionamento de outrora. Apesar disso, hoje eu entendo a dificuldade que ela assenhoreou para explicar-se a mim, com detalhes, a história da bolacha “Maria”. Agora, com o advento fantástico da internet, essas e outras informações estão às nossas mãos, bastar um click no computador. 

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por