Dário Cotrim

Antropologia cultural: os machados de pedra

Publicado em 09/09/2022 às 23:48.

Tenho encontrado, nos livros que existem sobre a antropologia brasileira, algumas notícias sobre os machados de pedra do homem primitivo, principalmente na região norte-mineira. É possível que os estudos existentes neste sentido possam esclarecer dúvidas e senões dos movimentos constantes dos índios pataxó (botocudos), também chamados de “guerém”, que habitavam o norte de Minas e parte do sudoeste da Bahia. 

Os achados de artefatos de pedras e fragmentos de ossos (esquírolas), mais as cerâmicas de barro retratam, com minudências, a origem histórica do homem primitivo nos sítios existentes na nossa região, principalmente em Coração de Jesus e Montalvânia. Nota-se que, no passado distante, as pontas de flechas são, em geral, de pedra lascadas (líticas), as varetas (hásteas ou bastonetes) retiradas das árvores, ao passo que pilões, mãos de pilão e, em geral, machadinhos eram feitos em pedras polidas. Isso numa época bem mais recente. 

Não obstante, o estudioso Carlos Ott disse não conhecer nenhum machado de pedra na região entre o Rio Pardo de Minas e o rio Doce, no Espírito Santo. Convém lembrar, que o historiador João Costa, de Salinas, nas suas pesquisas realizadas no sertão bruto do norte-mineiro, encontrou diversos artefatos de pedras – machadinhos, pontas de flechas de silex e algumas urnas funerárias. Cumpre notar, todavia, que muitos outros machados foram localizados em lugares diversos na nossa região. 

Como é do conhecimento de todos, o machado de pedra – inclusive os de nefrite – fora de grande relevância para o índio brasileiro. O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pensando na possibilidade de se criar um espaço destinado aos estudos da etnografia, no âmbito da antropologia cultural e social, vem inaugurar o espaço do “Museu da Antropologia e Etnologia Dr. Leonardo Campos”, onde serão expostas peças do artefato de sílex (por descamação) dos nossos antepassados.

Por outro lado, as características nas extremidades das pontas de flechas, até então encontradas na hinterlândia de Minas, podem nos revelar diferenças em seu formato e modo de produção, enunciando que os povos indígenas que aqui viveram não tinham a mesma cultura etimológica (comunicação) no período paleolítico com relação ao período neolítico. O que distingue o homem, o animal social que ora nos importa, de todos aqueles, é a cultura, afirma, Melville J. Herskavits, no seu livro: Antropologia Cultural.

Não era comum o homem da pré-história no Norte de Minas usar os machados de pedras polidas encabados. O que não aconteceu no período paleolítico. As machadinhas representavam um instrumento de sobrevivência, haja vista que o homem primitivo – ou coletores – vivia da caça e da pesca, e todo instrumento era muito importante para a sua sobrevivência. Então, “por aí se vê, como ainda hoje acontece, que os índios, entrando em contato com o homem branco, em primeiro lugar abandonaram seus machados de pedra, antes trabalhados com tanto esmero, pois a nenhuma escapou a grande vantagem oferecida pelos machados de ferro”. (Pré-história da Bahia. Carlos Ott. Página 46). 

Infelizmente, a bibliografia montes-clarense consta apenas de dois livros sobre esse empolgante tema em questão. São eles: “O Homem Primitivo no Norte de Minas”, do antropólogo doutor Leonardo Álvares da Silva Campos e o meu livro “A Arte Rupestre na Pré-história do Médio São Francisco”, publicado no ano de 2018, pela Editora Millennium.  

Entretanto, temos notícias de que há o livro “Estação Pré-histórica de Montes Claros”, escrito por três mãos: Eugênio Jalmay, Afonso do Paço e Leonel Ribeiro, que não sabemos, por certo, se o seu conteúdo contempla a antropologia de nossa cidade. Ainda assim, cumpre-nos notar que a sapiência do homem primitivo compreende num estudo intrínseco da estruturação tribal do antigo território brasileiro, conhecimento esse que se torna indispensável para análise do material arqueológico que ora está exposto no Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

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