Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

Uma ética coletiva contra a corrupção da natureza e dos costumes

Publicado em 08/10/2025 às 19:00.

Em meio às transformações aceleradas da cultura contemporânea, parece crescer uma inquietação coletiva diante de dois fenômenos interligados: a corrupção da natureza e a degradação dos costumes. De um lado, testemunhamos a devastação ambiental em nome do lucro imediato, a manipulação biotecnológica desvinculada de qualquer limite moral e a mercantilização dos recursos naturais. De outro, vemos o colapso de estruturas éticas fundamentais, a banalização da verdade, a glorificação do ego e o esvaziamento de virtudes como a fidelidade, a humildade e a responsabilidade. Esses sintomas não podem ser tratados de modo isolado. Eles revelam, juntos, a necessidade urgente de uma ética coletiva — não apenas em termos jurídicos ou políticos, mas em fundamentos morais e espirituais mais profundos. A tradição bíblico-reformada oferece uma contribuição insubstituível para esse debate.

Segundo a Escritura, o ser humano foi criado à imagem de Deus e colocado como mordomo da criação. A terra não pertence ao homem, mas ao Senhor, e foi confiada a ele para ser cultivada com responsabilidade e preservada com temor. A vocação original do ser humano envolve tanto o domínio quanto o cuidado — e esses dois termos não são opostos, mas complementares. O domínio sem cuidado gera exploração; o cuidado sem autoridade conduz à omissão. Quando o homem rompe com Deus pela desobediência, essa relação com a criação também se corrompe. O egoísmo, que antes era uma semente, torna-se sistema. E, com ele, nasce uma ética invertida, que passa a usar tudo — pessoas, corpos, terras e culturas — como instrumentos a serviço do prazer, do poder e da autopromoção.

A corrupção dos costumes está, portanto, enraizada numa distorção espiritual. Como bem entendeu a tradição reformada, o pecado afeta todas as dimensões da vida humana — razão, vontade, afetos, sociedade. Não há esfera neutra. A cultura, quando desconectada de Deus, torna-se expressão da autonomia rebelde do homem. E essa rebelião se manifesta tanto na forma como tratamos a natureza quanto na maneira como desvalorizamos os limites morais. Em nome da liberdade, despreza-se a ordem. Em nome da autenticidade, nega-se a verdade. Em nome do progresso, abandona-se a sabedoria ancestral. O resultado é uma sociedade acelerada, mas sem direção; produtiva, mas vazia; conectada, mas desorientada.

A resposta bíblico-reformada a esse cenário não é o moralismo superficial, que apenas aponta o dedo para o erro alheio. Tampouco é o escapismo espiritualista que ignora os problemas concretos da cultura. É, antes, a recuperação de uma ética do reino de Deus — uma ética que começa no coração transformado pelo evangelho, mas que se expressa publicamente em ações, escolhas e estruturas. Essa ética não é individualista. Ela é coletiva. Ela entende que o pecado é pessoal, mas também social; que a redenção é individual, mas tem implicações culturais; e que a obediência ao Senhor se manifesta não apenas no culto, mas no trabalho, no consumo, no discurso público, na educação, na política e na arte.

Nesse contexto, a necessidade de uma ética coletiva implica no resgate de princípios universais que não sejam definidos apenas por consensos momentâneos ou modas ideológicas, mas pela revelação de Deus e pela ordem natural. A verdade, a justiça, a dignidade da vida, a integridade dos relacionamentos, o cuidado com a criação — esses não são valores negociáveis, mas fundamentos da civilização. A fé reformada afirma que o Senhor governa todas as coisas e que sua Palavra oferece luz suficiente para o caminho. Negligenciar esse fundamento é permitir que os vícios se tornem estruturas, que a corrupção se torne norma, e que a decadência seja aceita como progresso.

É preciso, portanto, formar uma nova geração que pense eticamente, que aja com temor e que rejeite tanto a indiferença quanto o extremismo. Isso não se fará apenas com leis — embora leis justas sejam necessárias. Tampouco se resolverá com retórica — embora a palavra pública deva ser redimida. A transformação virá quando famílias, escolas, igrejas e comunidades se comprometerem com uma formação moral que aponte para algo maior que o desejo humano: o próprio caráter de Deus. Uma ética coletiva bíblico-reformada não teme a verdade, não disfarça a justiça e não negocia a integridade. Ela se submete ao Senhor e, por isso, é capaz de resistir aos modismos e às pressões que tentam normalizar o que é destrutivo.

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