Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

Um novo ethos

Publicado em 15/12/2022 às 00:35.

O apóstolo Paulo, escrevendo sua carta aos efésios (Ef 2.22-24), disse o seguinte: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”.

Lembro-me de que, quando criança, eu ficava tentando ensaiar uma assinatura do meu nome. Achava a letra e a assinatura da minha avó muito bonitas e quis copiá-las. Tentava de várias maneiras: nome completo, apenas o primeiro nome, nome e primeiro sobrenome e assim por diante. Demorou, mas cheguei ao que eu entendi ser o mais adequado para expressar minha identidade. Então, não mudei mais. Assino sempre do mesmo jeito. Claro que vista microscopicamente, deve haver muitas alterações, mas a olho nu quase não se percebem diferenças. 

A vida de qualquer pessoa é uma assinatura, de um cristão ainda mais. É o que o identifica e o distingue das demais pessoas. E cada um tem a sua identidade. Como as digitais ou o DNA. Cada um desenvolve suas próprias marcas e estilos a partir dessa identidade. É uma maneira de se apresentar e de dizer às outras pessoas que você é quem de fato afirma ser quem é. E isso é fundamental. 

No campo moral, chamamos a isso de caráter. A palavra caráter indica uma integridade básica, um modo de ser (quem somos) e de agir (o que fazemos) que se fundamenta em pressupostos básicos assumidos por uma pessoa. É o que chamamos de personalidade. Às vezes também chamamos de ethos – de onde vem a palavra ética. É um modo de ser e agir. Um estilo específico de cada indivíduo em sua identidade central e em seu comportamento. E essa personalidade de cada indivíduo pode ser desenvolvida por múltiplos fatores. Há fatores internos e externos que interferem nesse ethos e, portanto, em nossa ética – o modo como fazemos as coisas. 

Os fatores internos são nossa formação biológica, nosso DNA, por exemplo. Se o código genético predominante diz que você vai nascer com olhos azuis, assim você nascerá. Outros nascem com olhos pretos ou castanhos ou verdes. Se o código diz que você nascerá homem, assim você nascerá. Outras serão mulheres. E assim por diante. Esses são absolutos. Mas há fatores externos, como a cultura. Esse modo de ser da cultura também interfere em quem somos. Nós brasileiros, por exemplo, somos conhecidos pelo “jeitinho brasileiro” – lamentavelmente, mas é a verdade. Esses são fatores relativos. 

Um fator absoluto na identidade do ser humano, de acordo com a Palavra de Deus, é o fato de o ser humano ter sido criado à imagem e semelhança do Criador (Gn 1.26,27). Embora alguns não admitam essa verdade e desenvolvam um caminho de oposição a ela por afastamento e emancipação do Criador, percebemos, em nossa própria experiência, que há traços muito comuns em nós que nos apontam para o Criador: amor, alegria, fidelidade, benignidade, bondade, justiça, mansidão, perseverança etc. De onde vêm essas virtudes, senão do Criador delas? Não há outra fonte de bem senão o Bem Supremo, o Criador. O homem por si mesmo não pode produzir tais virtudes, porque ele é incompleto em seus atributos. 

Então a Bíblia também nos ensina o porquê o homem não pode produzir por si mesmo tais virtudes: é que o pecado, a Queda (Gn 3.6-19), quebrou desastrosamente essa imagem, de modo que todas as virtudes que possuímos em razão de sermos a imagem do Criador foram arrasadas e adulteradas. Não era mais o olhar divino que Adão e Eva tinham (Gn 3.7), nem o mesmo senso de justiça do Criador (Gn 3.12). Eram seus próprios meios enganosos que passaram a ser cultivados e desenvolvidos (Gn 3.12,13). Um novo ethos. Por isso, o homem pecador procura sempre as virtudes, mas o faz de modo pervertido. Ele busca o amor puro nos relacionamentos, mas faz isso fora do padrão estabelecido por Deus, modificando o amor em suas relações (Rm 1.24-27). Esse transtorno acontece com todas as demais virtudes. 

O cristão, porém, aquele que foi trazido de volta para o Criador por meio de Cristo, restabelece seu caráter à imagem do Criador. Ele é refeito para Deus por Jesus Cristo. Paulo afirma que os que são chamados para a vida pela sublime e secreta vontade de Deus por meio de Jesus Cristo recebem a graça de “serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). É um processo de cristificação, pelo qual reconstruímos nosso caráter na pessoa do nosso Redentor. Deixamos o homem caído e passamos a ser o homem de pé, que se apresenta ousadamente diante do Senhor, pelo ethos de seu Filho Jesus Cristo, nosso Redentor (Hb 10.19-25).

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