Na literatura filosófica, é bastante conhecido o “mito da caverna”, escrito por Platão, em sua República. O mito, resumidamente, apresenta pessoas presas em uma caverna, viradas para uma parede, vendo projetadas nessa parede sombras. Essas sombras são reflexos de imagens de objetos que passam por trás delas, iluminados por um fogo. Certo dia, uma dessas pessoas se liberta, volta-se para a saída da caverna e percebe que o que via eram sombras. Agora, do lado de fora, vê outras coisas, diferentes. Mas como as vê? Com os olhos ainda despreparados para ver as coisas como elas são, ele ainda vê como reflexos na água, porque o Sol lhe ofusca os olhos. Somente depois de um tempo é que ela consegue ver um pouco melhor as árvores. Mas, a essa hora, já é noite.
Na filosofia platônica, esse ver só é possível claramente após a morte. O corpo, para Platão, é matéria e, portanto, impede a alma de contemplar livremente. A alma, conspurcada pelo corpo, não pode conhecer claramente as coisas. Apenas a morte traria a liberdade.
Mas porque essa introdução aqui, se não estamos tratando de filosofia? Apenas para lhes mostrar duas coisas quanto ao genérico jeito humano de ser: primeiro, o senso de que a velhice é um momento duplo – de acúmulo de conhecimentos, mas também de perda de vida – é um sentimento humano universal. Todos nós sabemos que é assim. Não há voltas para a morte. Como escreveu John Glenn, “Ainda não há cura para o aniversário”. Vamos nos envelhecer e morrer. Alguns morrem jovens. Mas o natural é irmos morrendo, desde o dia que nascemos. Aos poucos, mas morrendo.
Em segundo lugar, é minha intenção dizer que, no fundo, todos os homens sabem que devem se preparar para a morte. Todos nós sabemos disso também. Mas por que alguns ignoram a morte? Bom, eles não ignoram. Eles fingem ignorar. É como um fantasma para eles: dizem não querer saber, não gostam de falar sobre isso, mas tremem ao ouvirem falar e sofrem ao pensarem que ela está mais perto. Todos nós sabemos que a morte chegará um dia e o processo natural para se chegar a ela é nos tornando velhos. Quando vamos envelhecendo, vamos chegando mais perto da morte.
Uma professora minha me disse certa vez que a sensação de morte é como uma prateleira de livros. Você vai vendo os livros que estavam em pé se deitando, da prateleira de cima à de baixo. Você está em uma delas. Ela disse: “De repente, você percebe que os livros de sua prateleira começam a cair. O fluxo está chegando perto de você”.
Pois bem, mas como nos preparar para a velhice e para esse conflito de perdas? Perdas? Sim. Porque vamos perdendo algumas coisas: vigor físico, a resistência dos ossos, alguns perdem a memória, os dentes, os cabelos, a rigidez dos músculos e da pele. Vamos caindo. Afinal, é a lei da gravidade. Caindo. Mas como nos restaurar o doce sabor pela vida, persistindo na promessa de que o que estamos mesmo vivendo aqui é um estágio, um tempo, uma passagem. Não somos desse mundo, portanto não devemos desejar ficar aqui para sempre. Como, pois, nos preparar para isso?
1.Identificando as crises
Primeiramente, é muito importante saber onde estamos no curso da vida. Chega um tempo no qual você começa a olhar mais para trás do que para frente. Eu acho que é nesse momento em que percebemos que estamos mais para lá do que para cá, ou seja, estamos nos tornando velhos. Nem tanto as rugas, nem tanto os cabelos esbranquiçados, mas a tendência de pensar que, embora ainda tenhamos muito que fazer, já fizemos muito no passado. Começamos a contar as nossas próprias histórias, temos muitos exemplos para dar de nós mesmos. Bom, eu acho que aqui começamos a envelhecer.
O pastor Paul David Tripp, em seu livro Perdido no meio: a crise da meia-idade e a graça de Deus, relaciona oito possíveis sintomas da crise da meia-idade. É bom observarmos isso, porque saber identificar as crises é um primeiro passo para lidar com os problemas e encontrar as soluções.
a)Insatisfação com a vida: é uma fase na qual você começa a olhar para o lado e reclamar de sua vida. Parece que o que você fez até aqui não tem sentido, que você deveria recomeçar. É um período de descontentamento, desilusão e enfado constante. Você se lamenta do que poderia ter feito e não fez. Quem você poderia ter se tornado e não se tornou. Sempre a história do “se eu tivesse feito isso ou aquilo”.
b)Desorientação: é uma fase na qual ficamos perdidos. Você não se acha mais em seu planejamento. Parece que a profissão que você escolheu não é a certa, a pessoa com quem você se casou não é mais aquela que você quer, os seus filhos parecem estar noutro mundo. Há uma perda funcional de sentido: você não sabe mais quem é e o que está fazendo por aqui.
c)Desencorajamento: é uma fase na qual você perde a expectativa, a esperança, a coragem, a vibração com novas ideias. Você se sente desmotivado para recomeçar projetos, para lançar ideias novas, para lutar por princípios pelos quais lutava antes.
Comtinua....