Os reformadores estavam longe de ser perfeitos, mas mostraram o que pode ser feito quando o povo de Deus é libertado pelo evangelho para o bem de seu próximo e para a glória do seu Redentor.
Um outro exemplo mais recente é o de Abraão Kuyper (1837-1920). Uma das suas contribuições importantes foi sua insistência de que os cristãos na política servissem à nação toda e que não apenas promovessem o bem de seus próprios guetos espirituais. Para Kuyper, “Não existe uma só polegada, em todo o domínio de nossa vida humana, da qual Cristo, que é soberano de tudo, não proclame: Meu!”. É claro que essa frase poderia ser tomada pelos incrédulos como uma tentativa de impor a fé cristã sobre toda a sociedade. Mas Kuyper estava destacando o senhorio de Cristo sobre “todo o domínio da vida de cada crente”. A vida dos crentes será regulamentada e regida pela vontade revelada de Deus, não apenas nos domingos, mas às segundas-feiras também. Todo pensamento tem que ser levado cativo a Cristo, declarou Paulo.
III. Afinal, existe arte cristã?
Eram os grandes escritores e artistas de séculos passados, como Milton, Bunyan, Händel e Rembrandt pioneiros da “literatura e arte cristã” ou simplesmente cristãos que criaram boa arte? Em qualquer curso secular de literatura que ainda aprecie os clássicos do Ocidente, pessoas que professavam ser cristãs dominam os nomes, mas suas obras são classificadas como “clássicos da literatura”. Não havia necessidade de criar uma classe especial de literatura para eles, porque foram reconhecidos por seus próprios méritos. É somente quando nossa arte torna-se de segunda categoria que temos de criar um lugar especial para ela e justificá-la pelo uso moral e evangelístico com que serve a comunidade cristã.
Mas nesse modelo que estou sugerindo, seria perfeitamente aceitável um cantor cristão talentoso encontrar uma gravadora secular e gravar um álbum que não mencionasse temas religiosos. Ironicamente, ao sugerir isso, cristãos reformados se arriscam a ser chamados de “mundanos” pelos mesmos crentes que permitiram que o mundo definisse sua vida espiritual e a arte que produzem.
III. Quando Deus fica fora do dia-a-dia
A Bíblia adverte contra confundir as “coisas celestes” com as “coisas terrestres”, mas não adverte contra as “coisas terrestres” em geral. Quando Paulo disse: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2.8) ele não afirmava que os cristãos devessem considerar toda a sabedoria e filosofia humanas como contrárias à fé. Lembre-se de que Paulo é o homem que argumentou em favor do Cristianismo, a partir da filosofia humana em Atos 17. A sabedoria humana tem valor, mas ainda é humana e não tem supremacia sobre a divina.