Como nós os cristãos devemos nos comportar diante de pessoas e ameaças pagãs e anticristãs que surgem em todo tempo? Devemos permanecer firmes no ensino doutrinário que nos foi revelado pelos apóstolos e por nosso Senhor Jesus Cristo (v.17). Temos um corpo de doutrinas, de verdades, de proposições das quais precisamos depender e as quais precisamos assumir como sendo nosso padrão de fé e prática. Não me refiro aqui às “teologias sistemáticas” produzidas nas faculdades teológicas nem necessariamente aos nossos documentos “simbólicos” de fé, como os credos e as confissões. Esses materiais são instrumentos para conseguirmos compreender alguns dos pontos difíceis das Escrituras. Eles são bênçãos para nós. Mas eu me refiro aqui à “teologia bíblica propriamente dita”, a saber: aquelas verdades que estão nas Escrituras e para onde os nossos olhos e corações devem olhar e se fixar em todo o tempo. Não adianta decorar credos e confissões se as verdades que eles sistematizam não estão profundamente enraizadas em nossos
corações e declaradas em nossos lábios. A nossa “teologia sistematizada” só faz sentido se a “teologia da Escritura” habitar nossa alma.
Por isso Judas diz que nós devemos “edificar-nos” nessa fé santíssima (v.20). Se os ímpios promovem divisões e mentiras, se eles falsificam a verdade da Palavra, nós, ao contrário, devemos fortalecer-nos espiritualmente e nos aperfeiçoar como corpo santo do Senhor. Devemos, portanto, evitar as discussões inúteis, os conflitos idiotas, e nos esforçar ao máximo, tanto quanto pudermos, para promover a verdade da Palavra de Deus em nossas palavras e atitudes, como irmãos em Cristo que somos. Essa palavra faz todo sentido numa época em que pessoas ficam disputando questiúnculas e minúcias em nossas igrejas. São lamentáveis as pregações que se dedicam para criar regrinhas de “faça isso, não faça aquilo”, enquanto deveríamos estar unidos, como num só corpo, lutando juntos pelas verdades centrais do cristianismo.
Em vez de eliminar os que pensam diferentemente de nós, deveríamos “compadecer-nos dos que estão em dúvida”, buscar a salvação deles, tirando-os do juízo divino (v.22,23). Deveríamos mesmo nos afastar daqueles que, “dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais”, disse Paulo (1Co 5.11). Mas não devemos nos afastar dos nossos irmãos de verdade nem daqueles que precisam ouvir a pregação da Palavra de Deus. Devemos nos afastar dos falsos e ímpios que promovem divisões em nossas igrejas (v.23).
Outra prática importante citada por Judas e que é controversa quanto à interpretação: “orando no Espírito” (v.20). Aqui não é uma referência a oração em línguas, como pensam alguns dos nossos irmãos pentecostais, a quem amamos, evidentemente. A referência aqui é a uma oração dirigida pelo Espírito Santo. Os ímpios não têm o Espírito Santo, portanto suas orações são falsas e não chegam a Deus corretamente. Os crentes, ao contrário, têm o Espírito Santo e, por isso, como disse Paulo, “o Espírito nos auxilia em nossa fraqueza; porque não sabemos como orar, no entanto, o próprio Espírito intercede por nós com gemidos impossíveis de serem expressos por meio de palavras” (Rm 8.26). Portanto, os cristãos devem orar ao Senhor para o enfrentamento dessas batalhas.
Por fim, devemos nos lembrar de que “a batalha pertence ao Senhor” (1Sm 17.47). Se a nossa luta de cada dia é a batalha do Senhor contra os “inimigos do Senhor”, significa que o próprio Senhor, por meio de Jesus Cristo, nos guardará de tropeços e nos apresentará vencedores no último dia. Os cristãos estão lavados pelo sangue do Cordeiro, portanto são justos diante de Deus, o grande juiz, e podem se aproximar diante de sua glória sem temor aterrorizante, porque estão aptos para entrarem em sua casa (v.24).
É a esse Deus que devemos adorar todos os dias de nossa vida. É ele quem merece toda a nossa adoração e todo o louvor em tudo o que fazemos ou pensamos. É por meio de Jesus Cristo, o Deus que vemos entre nós, o nosso Senhor – ele é “nosso”, diz Judas (v.26) – que devemos nos aproximar do Pai. Em Jesus Cristo e por sua infinita graça é que nos submetemos à majestade, ao império e à soberania do Deus do Universo a quem devemos amar e obedecer. Aleluias! Glórias e glórias ao nome do Soberano Senhor!
Portanto, lutemos a batalha que nos foi proposta, olhando firmemente para Jesus, autor e consumador de nossa fé. Lutemos crendo que a batalha é do Senhor e ele nos dará forças para vencer. Lutemos cientes de que a verdade está conosco e está do nosso lado, porque Jesus Cristo é a verdade. Qualquer proposta ideológica ou prática de vida que não se alinha à perspectiva cristã não é de Jesus Cristo e, portanto, deve ser rechaçada pelos cristãos. Eles podem parecer atraentes, simpáticas, sensuais. As palavras podem cativar, mexer com as nossas paixões, como de fato nos embalam. As palavras nos fazem ir longe, voar. Por mais que elas soem agradáveis e apaixonantes sem nossos ouvidos, devemos estar firmados na “fé que uma vez por todas nos foi entregue”. Há uma verdade e ela é Jesus Cristo. Ele está mostrado nas Escrituras, desde o Gênesis ao Apocalipse. Portanto, devemos buscá-lo nelas.