Em vários outros provérbios e textos proféticos, as Escrituras nos alertam quanto ao mau uso das influências políticas e econômicas com o intuito de alcançar vantagens pessoais. Alguns costumam chamar esse tipo de atitude como tráfico de influência. Uma pessoa poderosa política ou financeiramente oferece vantagens pessoais para outra a fim de conseguir também vantagens políticas. As Escrituras classificam essa atitude ímpia como suborno.
Subornar é oferecer vantagens indevidas para alguém com o intuito de ser favorecido em algo que contraria a lei. Um motorista sem habilitação que oferece dinheiro para o policial da blitz não multá-lo; um médico que cobra um valor “por fora” para fazer um procedimento cirúrgico coberto pelo SUS; um juiz que declara inocente um culpado visando receber imóveis em troca de sua sentença injusta; um prefeito que aprova a contratação de uma empresa fora da licitação pública por receber certa porcentagem do serviço prestado. São muitos exemplos que, infelizmente, vemos acontecer ao nosso redor.
O suborno é fortemente condenado pelas Escrituras. O Senhor não tolera sentenças injustas e práticas ilegais. Os profetas, falando pelo Senhor, denunciaram essas práticas em várias nações. Contra Tiro, o profeta escreveu: “Calai-vos, moradores do litoral, vós a quem os mercadores de Sidom enriqueceram, navegando pelo mar” (Is 23.2). Contra o próprio povo de Jacó, o Senhor declarou: “Ouvi, agora, isto, vós, chefes da casa de Israel, que abominais o juízo, e perverteis tudo o que é direito, e edificais a Sião com sangue e a Jerusalém, com perversidade. Os seus cabeças dão as sentenças por suborno, os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro...” (Mq 3.9-10).
Não seria possível dizer com maior clareza. O Senhor revelou os interesses escusos dos corações daqueles que detinham o poder: juízes, sacerdotes e profetas. Os sistemas políticos, religiosos e jurídicos se coligaram para fazer o que era mau perante o Senhor promulgando sentenças injustas e defendendo interesses e vantagens pessoais. O Senhor abomina essas atitudes. O salmista afirma que os preceitos do Senhor “são estáveis para todo o sempre, instituídos em fidelidade e retidão” (Sl 111.8). Não há injustiças em Deus, “porque o Senhor é justo, ele ama a justiça” (Sl 11.7). “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Sl 145.17).
Nessa mesma linha, o escritor aos Provérbios nos alerta: “O perverso aceita suborno secretamente, para perverter as veredas da justiça” (Pv 17.23). Recentemente, na operação Penalidade Máxima, desencadeada pelo Ministério Público de Goiás, jogadores de futebol foram denunciados e, posteriormente, punidos pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva, por práticas ilegais em relação a casas de apostas. Eles recebiam certa quantia em dinheiro para cometer irregularidades durante as partidas de futebol a fim de favorecer as apostas. Alguns deles foram banidos do futebol.
Atitudes fraudulentas como essas são muito lamentáveis. Os cristãos não devem jamais aprovar práticas financeiras ou políticas que visem favorecer indivíduos a parte da lei. Devemos ser testemunhas da verdade e promover a justiça em todas as situações. Inocentar os culpados ou culpar inocentes deve ser abominável aos olhos dos cristãos. Testemunhar falsamente é um dos pecados cometidos contra a lei de Deus.
O nono mandamento nos proíbe o falso testemunho. Dentre os vários pecados proibidos no nono mandamento, alguns deles são: “tudo quanto prejudica a verdade e a boa reputação de nosso próximo, bem assim a nossa, especialmente em julgamento público, o testemunho falso, subornar testemunhas falsas, aparecer e pleitear cientemente a favor de uma causa má; resistir e calcar à força a verdade, dar sentença injusta, chamar o mau, bom e o bom, mau; recompensar os maus segundo a obra dos justos e os justos segundo a obra dos maus; falsificar firmas, suprimir a verdade e silenciar indevidamente em uma causa justa; manter-nos tranqüilos quando a iniqüidade reclama a repreensão de nossa parte, ou denunciar outrem, falar a verdade inoportunamente, ou com malícia, para um fim errôneo; pervertê-la em sentido falso, ou proferi-la duvidosa e equivocadamente, para prejuízo da verdade ou da justiça; falar inverdades, mentir, caluniar, maldizer, depreciar, tagarelar, cochichar, escarnecer, vilipendiar, censurar temerária e asperamente ou com parcialidade, interpretar de maneira má as intenções, palavras e atos de outrem; adular e vangloriar; elogiar ou depreciar demasiadamente a nós mesmos ou a outros, em pensamento ou palavra; negar os dons e as graças de Deus; agravar as faltas menores; encobrir, desculpar e atenuar os pecados quando chamados a uma confissão franca; descobrir desnecessariamente as fraquezas de outrem e levantar boatos falsos; receber e acreditar em rumores maus e tapar os ouvidos a uma defesa justa; suspeitar mau; invejar ou sentir tristeza pelo crédito merecido de alguém; esforçar-se ou desejar o prejuízo de alguém; regozijar-se na desgraça ou na infâmia de alguém; a inveja ou tristeza pelo crédito merecido de outros; prejudicar; o desprezo escarnecedor; a admiração excessiva de outrem; a quebra de promessas legítimas; a negligência daquelas coisas que são de boa fama; praticar ou não evitar aquelas coisas que trazem má fama, ou não impedir, em outras pessoas, tais coisas, até onde pudermos” (Catecismo Maior de Westminster).
Sendo assim, os cristãos devem zelar pela verdade e pela justiça e denunciar práticas abusivas e subornos. Devem envidar todos os esforços para se manterem fieis à verdade e vigiarem para não serem manipulados por favores individuais, vendendo sua ética ou negociando seus princípios por vantagens temporárias e ilegais.
Soli Deo Gloria!