Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

No Princípio, Deus — Por que a vida não cabe dentro do materialismo

Publicado em 10/12/2025 às 19:00.

“No princípio, criou Deus os céus e a terra.” A frase inaugural da Escritura é mais que um relato de origem; é uma declaração sobre a estrutura da realidade. Ela afirma que antes de qualquer coisa existir — energia, espaço, leis físicas, partículas, vida — havia Deus. E que tudo o que vemos e conhecemos é resultado de um ato livre, racional e pessoal deste Criador.

O materialismo, entretanto, propõe outra narrativa: “No princípio era a matéria.” Não há mente primordial, não há vontade divina, não há propósito. Só há átomos em movimento e cadeias causais impessoais, das quais emergem a vida, a consciência, a moral e até mesmo a ideia de Deus. À primeira vista, trata-se apenas de uma divergência sobre origens; mas, na verdade, esses dois pontos de partida produzem universos inteiros que não se comunicam entre si.

Se tudo começou com a matéria, então o cosmos não tem sentido — tem apenas processos. A vida não tem dignidade — tem composição química. O ser humano não tem identidade — tem função biológica. Como destaca a análise reformada da apologética, se o materialismo for verdadeiro, aquilo que chamamos beleza, justiça, consciência ou amor não passa de neuroquímica em ação; produtos evolutivamente úteis, mas sem referência objetiva a verdade ou valor. A própria razão humana — nossa capacidade de pensar, deduzir, argumentar — seria apenas um resultado cego da seleção natural, desenvolvida não para alcançar a verdade, mas para garantir sobrevivência. Nesse caso, por que deveríamos confiar nela? Como sabemos que o materialismo é verdadeiro, se nosso cérebro não foi feito para conhecer verdades, mas apenas para reagir a estímulos? A própria ideia de verdade desaparece.

Essa é a autocontradição fatal do materialismo: ele exige racionalidade para ser defendido, mas elimina racionalidade como fundamento da existência. Ele pede que confiemos na mente humana, mas reduz a mente a um conjunto de impulsos determinados por química e acaso. Ele pede que aceitemos sua moralidade, mas afirma que moralidade não passa de construção evolutiva. Ele pede que vivamos como seres responsáveis, mas afirma que não existe liberdade, apenas determinismo físico. Em suma: para ser coerente, o materialismo teria de destruir todos os instrumentos necessários para que ele próprio seja acreditado.

Por essa razão, a apologética reformada não apresenta Deus como uma hipótese entre outras, mas como fundamento indispensável para que razão, ciência, moralidade e significado existam. Não se trata de dizer apenas que Deus criou o mundo; trata-se de afirmar que sem Deus o próprio conceito de mundo se torna incoerente. O universo material pressupõe ordem, leis estáveis, racionalidade matemática — elementos que não são explicáveis pela matéria, mas tornam-se plenamente inteligíveis se o Criador ordena, estrutura e sustenta todas as coisas.

Quando Gênesis 1.1 afirma que Deus criou os céus e a terra, está dizendo também que matéria não é eterna, não é divina, não é autossuficiente. A matéria é efeito, não causa. Depende, não cria. É contingente, não absoluta. E, por isso mesmo, pode ser estudada, medida, investigada — porque foi ordenada por um Deus racional. É aqui que ciência e fé se encontram: não como rivais, mas como disciplinas que partem de pressupostos diferentes sobre o porquê a realidade é inteligível.

Ao mesmo tempo, somente uma visão teísta — e, mais especificamente, cristã — sustenta o valor intrínseco da pessoa humana. Se somos apenas animais sofisticados, não há fundamento objetivo para dignidade, liberdade, moral ou responsabilidade. Tudo se reduz a instinto, química e utilidade. Mas se fomos criados à imagem de Deus, como ensina a Escritura, então cada vida tem valor, cada escolha é significativa, cada ação é moralmente pesada. Nesse universo, justiça não é opinião; é reflexo do caráter divino. Amor não é impulso; é vocação. Consciência não é acidente biológico; é marca do Criador.

A crítica reformada ao materialismo não nasce de preferência religiosa, mas de coerência intelectual: o materialismo não consegue explicar o mundo que realmente existe — um mundo de beleza, ordem, moralidade, significância e pessoas conscientes. Como afirma a síntese apologética: sem Deus, não há cosmos; sem Deus, não há homem; sem Deus, não há sentido.

Duas narrativas se apresentam diante de nós. Uma afirma que tudo é acidente. A outra, que tudo é dom. Uma diz que somos poeira cósmica temporária. A outra, que fomos criados para conhecer, amar e refletir o Criador eterno. A escolha entre elas não determina apenas nossa filosofia — determina nossa vida.

No princípio, não estava o átomo — estava Deus. E isso muda tudo.

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