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Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

Estratégia e Verdade: como planejar a vida com propósito

Publicado em 19/11/2025 às 19:00.

Vivemos em uma época marcada por velocidade, excesso de informação e carência de direção. A vida moderna, com suas demandas constantes, muitas vezes nos empurra para um modo de existência imediatista, reativa e improvisada. Planejamos pouco e reagimos muito. Trocamos sabedoria por pressa, reflexão por estímulo, e propósito por performance. Neste cenário, a proposta de se viver estrategicamente pode parecer antiquada ou até mesmo autoritária. No entanto, o princípio de planejar com clareza de missão, refletido tanto em ensinamentos bíblicos quanto em estratégias militares como as analisadas por Jim Wilson em Principles of War, é profundamente atual — e necessário.

A boa estratégia começa com um reconhecimento da realidade. Nenhum general entra em campo sem antes observar o terreno, avaliar suas tropas e estudar o inimigo. De forma semelhante, ninguém deveria enfrentar as batalhas da vida sem antes considerar com seriedade quem é, onde está, e para onde deve ir. Isso exige autoconhecimento, sabedoria e, acima de tudo, verdade. Não se pode planejar a vida sobre ilusões. Por mais sedutora que seja a ideia de que podemos ser qualquer coisa, fazer tudo, ou ignorar nossas limitações, o preço da fantasia é sempre a frustração. A vida exige propósito. E propósito exige verdade.

O imediatismo da cultura atual tem feito com que muitas pessoas vivam como se a próxima notificação fosse mais importante que o próximo ano. A urgência do agora esmaga a importância do amanhã. Mas viver assim é como navegar sem bússola. O que sobra é cansaço, desorientação e um sentimento de que, mesmo fazendo muito, não se está chegando a lugar nenhum. Estratégia, nesse contexto, não é controle absoluto, mas direção clara. E essa direção precisa ser orientada não apenas por desejos momentâneos, mas por princípios sólidos.

A tradição bíblico-reformada oferece uma visão rica sobre essa questão. Em Provérbios, lemos que “o coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”. Isso revela uma tensão criativa: por um lado, somos chamados a planejar, a exercer domínio responsável, a organizar nossa vida com sabedoria. Por outro, somos convidados a confiar na providência de Deus, reconhecendo que não temos controle sobre todas as variáveis. Essa combinação — planejamento estratégico e dependência reverente — é o antídoto contra tanto a ansiedade do controle quanto a passividade do fatalismo.

Planejar a vida com propósito, portanto, não é construir um império pessoal, mas discernir com humildade qual é o nosso papel no grande drama da existência. Isso inclui reconhecer nossas limitações, nossos dons, nossas oportunidades e, sim, nossos pecados. A clareza de missão não surge apenas da análise de mercado ou da introspecção emocional; ela surge, em última instância, de uma visão mais ampla da realidade — uma visão que leve em conta a transcendência, a responsabilidade e a esperança. Sem esse horizonte mais alto, qualquer projeto humano corre o risco de se tornar ou presunçoso demais, ou pequeno demais.

Jim Wilson observa que muitos dos fracassos em batalha não ocorrem por falta de força, mas por falta de clareza. Tropas confusas, sem ordens ou visão, se tornam vulneráveis, ainda que bem armadas. O mesmo vale para famílias, empresas, escolas, igrejas e indivíduos. Sem direção clara, acabamos lutando contra os aliados, ignorando os verdadeiros inimigos e desperdiçando energia com objetivos secundários. Estratégia, nesse sentido, é foco. É saber o que importa mais. É aprender a dizer “não” para o que é urgente, mas irrelevante, e “sim” para o que é essencial, ainda que difícil.

Esse tipo de sabedoria prática também exige leitura do tempo presente. Como um comandante que estuda o clima, o relevo e a movimentação do oponente, também somos chamados a discernir os sinais do nosso tempo. Em uma sociedade plural e relativista, isso não significa arrogância, mas sobriedade. Não significa impor, mas propor. E, sobretudo, significa agir com responsabilidade, não apenas em benefício próprio, mas com vistas ao bem comum.

Uma vida estratégica também requer coragem. Nem sempre os planos serão populares, nem sempre os caminhos serão fáceis. Por isso, além de sabedoria e visão, é necessário caráter. Uma visão clara sem coragem se torna apenas um sonho. E coragem sem visão se transforma em ativismo sem direção. A combinação dos dois é o que gera transformação real — na vida pessoal e na esfera pública.

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