A marca mais evidente de nossa época é o individualismo. Na verdade, o individualismo está presente em nossa sociedade desde Caim que, revoltado pela deferência de Deus em relação a Abel, resolveu matá-lo (Gn 4.9). Portanto, esta atitude é uma consequência do pecado no mundo.
Quanto mais vemos crescer o pecado, mais veremos o individualismo prosperar. A autonomia do indivíduo é um projeto do pecado. O homem afastado de Deus e dono de suas próprias escolhas e história é o cenário do pecado. Na tentação que originou a Queda, vemos esta proposta ser feita a Adão e Eva pela serpente astuta: “É assim que Deus disse: Não comereis der toda árvore do jardim?... É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.1-5).
Esta tendência de autonomia tem a ver também com o progresso. Quanto mais as sociedades vão se desenvolvendo econômica e culturalmente, os indivíduos vão se considerando autônomos em suas vidas. Eles pensam que Deus não interfere mais em suas vidas diárias. Até podem acreditar que Deus está por aí, em algum lugar do universo, mas desconsideram-no na prática.
Agindo assim, tornam-se cada vez mais individualistas. A Bíblia ensina que os dois principais mandamentos são: amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos. Mas, se não amamos a Deus, como poderemos amar ao próximo? Se desconsideramos que Deus atua eficazmente em nossa vida, como poderemos imaginar que o próximo poderá nos ser útil numa vida em sociedade? A tendência, portanto, é vivermos fisicamente juntos – apesar de que, até mesmo neste caso as redes sociais, os edifícios de luxo e outras modernidades têm nos afastado – e estarmos totalmente separados. O que interessa para Deus é a proximidade de propósito e a unidade de vida.
Quantas vezes você já foi capaz de dizer “eu preciso de você!”. Qual a última vez que você falou isso com sua esposa, seu esposo, seus filhos, um irmão ou uma irmã na igreja? A quem você recorre nos momentos de necessidade de consolo?
Deus determinou que cuidássemos uns dos outros. Vemos, amplamente, por toda a Bíblia instruções acerca do cuidado mútuo. Nesta lição, examinaremos como o Espírito Santo nos habilita para cuidar uns dos outros e como devemos cuidar uns dos outros, visando despertar em nós a necessidade de proximidade e de comunhão.
1.A necessidade de uns pelos outros
Pelo que lemos nas Escrituras, a soberba é um pecado odioso para Deus e que tem consequências desastrosas (Rm 1.28). O orgulho, a vaidade, a autossuficiência, todos derivados de um coração soberbo, são desastrosos, porque impedem, dentre outras coisas, que busquemos por ajuda tanto em Deus quanto nas pessoas ao nosso redor. Consideramo-nos tão autossuficientes que não vemos no outro um ponto de apoio e de refúgio no momento da necessidade. Elevamos o “eu” como detentor de razões e soluções. Tornamo-nos individualistas. Achamos que poderemos sempre resolver os nossos problemas por nossas próprias soluções, como se fosse possível renunciar à ajuda das pessoas que estão ao nosso redor.
Por outro lado, recusamo-nos, também, oferecer nossa própria ajuda àqueles que estão sofrendo. Muitas vezes, passamos de largo, como as personagens da Parábola do Bom Samaritano, que evitaram “se contaminar” com aquele homem caído na estrada (Lc 10.25-37, especialmente 31 e 32). Há muitas pessoas “caídas” por aí e nós, tantas vezes, não nos ocupamos delas, preferindo, tantas outras vezes, julgá-las temerariamente.
Entretanto, a Palavra do Senhor nos ensina que a vida cristã não pode ser vivida isoladamente (Hb 10.25), pois somos uma família (Ef 2.19), escolhida antes da fundação do mundo (Ef 1.4), para vivermos em comunhão uns com os outros (At 2.42-47), com alegria e devoção e, especialmente, cuidando uns dos outros, pastoreando, aconselhando, admoestando e orando (Cl 3.16,17; Tg 5.16). A vida cristã precisa ser fundamentada no “eu preciso de você!”. Devemos declarar uns aos outros a nossa incapacidade de lidar com os problemas e reconhecer que somos devedores uns aos outros do amor com que somos amados pelo Senhor.
Todos nós precisamos uns dos outros. Não estamos nem somos sozinhos no mundo. Mesmo que às vezes achemos que estamos abandonados, sempre terá alguém orando por nós, preocupando-se conosco, torcendo por nós. Sempre terá alguém para nos levar “para cima” (Jó 22.29a).