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Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

Chamado à transformação

Publicado em 15/01/2025 às 19:00.

Em Mateus 5.13, Jesus faz uma afirmação que reverbera até os dias de hoje: “Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com o que se há de salgar?” O versículo se segue com outro poderoso convite: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte.” Estas palavras, ditas pelo próprio Cristo, são um chamamento direto à vida cristã autêntica e transformadora. A partir da perspectiva da teologia calvinista reformada, esses versículos não são apenas uma exortação moral, mas um lembrete profundo do papel do crente em um mundo que carece desesperadamente da graça redentora de Deus.

A teologia calvinista, que coloca a soberania de Deus no centro de sua visão de mundo, entende que tanto o “sal” quanto à “luz” são metafóricos para descrever a missão do cristão na sociedade, uma missão que é movida pela ação soberana de Deus e que deve refletir os princípios divinos revelados nas Escrituras. É a resposta a um chamado que transcende os limites do indivíduo, englobando toda a coletividade da Igreja e sua missão de ser instrumento de transformação no mundo.

O sal, no contexto bíblico, era um elemento essencial para a preservação dos alimentos em uma época sem refrigeração. Ele tinha o poder de evitar a decomposição e de conferir sabor. A metáfora de Jesus sobre o sal carrega um significado profundo: os cristãos são chamados para ser agentes de preservação e transformação no mundo, atuando contra o processo de corrupção moral e espiritual que impera na humanidade caída. Contudo, esse sal também deve ter sabor, pois, como Jesus alerta, “se o sal se tornar insípido, com o que se há de salgar?”

A teologia calvinista interpreta essa exortação de forma a enfatizar a ação da graça de Deus sobre o coração do crente. O sal da terra não é fruto de um esforço humano autônomo, mas da ação soberana de Deus em nossas vidas. Como diz Calvino, nossa capacidade de fazer a diferença no mundo vem do poder do Espírito Santo, que opera em nós para que possamos cumprir a missão de preservação do que é bom, justo e verdadeiro. O sal, portanto, não pode perder sua essência, pois, se isso acontecer, ele será inútil, exatamente como o crente que perde sua fidelidade a Deus e sua missão no mundo.

Em um mundo marcado pelo pecado e pela depravação, o crente reformado deve ser alguém que, não por sua própria força ou virtude, mas pela graça de Deus, se opõe ao caos moral e espiritual. A fidelidade à Palavra de Deus, o viver segundo os princípios do Reino e a prática de uma vida íntegra tornam-se os meios pelos quais o cristão conserva o mundo de sua degradação. Não se trata de uma posição isolada ou separatista, mas de uma presença ativa, de sal que se espalha para impedir a deterioração ao redor. O crente, com sua vida modelada pela Escritura, torna-se um instrumento de purificação, um lembrete contínuo de que a verdade de Deus é a única capaz de trazer cura ao mundo.

Em seguida, Jesus diz aos seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo.” A luz, em toda a Escritura, simboliza a presença de Deus e a revelação divina. No evangelho de João, por exemplo, Jesus se apresenta como a Luz do mundo (João 8.12), a fonte de toda verdade e salvação. No contexto de Mateus 5, a luz não é apenas uma referência à presença de Deus, mas também à responsabilidade do crente de refletir essa luz no mundo, levando outros a conhecerem a verdade de Deus.

Na teologia calvinista, a luz que o cristão emana não é sua própria, mas a luz de Cristo que resplandece através dele. O cristão, ao ser transformado pela graça de Deus, torna-se uma testemunha dessa luz que ilumina a escuridão do pecado e da morte. Essa luz não pode ser escondida, pois ela é visível e atrai outros para a verdade de Deus. A reforma de um indivíduo não é para seu próprio benefício, mas para a glória de Deus e para a edificação do Corpo de Cristo.

Calvino, ao comentar sobre a missão da Igreja no mundo, ressalta que o cristão deve ser como uma cidade no alto de uma montanha, visível e acessível a todos. O chamado reformado não é de um cristianismo introvertido ou de uma fé que se esconde. Ao contrário, é um chamado à evangelização e à presença pública, que visa não só a salvação individual, mas também a transformação cultural. A Igreja é chamada a ser luz no meio de uma sociedade escura, mostrando que a luz de Cristo tem poder para transformar todas as áreas da vida humana, da política à educação, da economia à cultura.

O papel do cristão como sal e luz não se restringe ao âmbito pessoal e religioso, mas se estende à cultura e à sociedade em que vive. A teologia calvinista afirma que o Reino de Deus não é apenas um futuro espiritual, mas também tem implicações no presente. A redenção de Cristo não se limita a salvar almas, mas abrange todas as esferas da vida humana. 

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