Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

Bem-aventurados os pacificadores – Mateus 5.8

Publicado em 04/12/2024 às 19:00.

As grandes cidades são lugares de contrastes intensos. Em muitas delas, as desigualdades sociais são evidentes, com áreas de grande riqueza convivendo ao lado de comunidades marcadas pela pobreza extrema. A violência, seja física, psicológica ou estrutural, se torna um reflexo da injustiça social e das disparidades econômicas que caracterizam o ambiente urbano. A luta por recursos, o tráfico de drogas, a violência policial, a exclusão social e o preconceito racial são apenas algumas das muitas formas de conflitos que dominam as cidades. A falta de diálogo e a polarização em questões políticas e culturais também contribuem para uma atmosfera de hostilidade que pode ser difícil de enfrentar.

Nesse cenário, a palavra de Jesus sobre ser pacificador ressoa com urgência. Não se trata apenas de um convite para que os cristãos vivam em harmonia uns com os outros, mas para que eles sejam agentes ativos de paz em meio ao caos. O pacificador, segundo o Evangelho, não é alguém passivo que evita conflitos, mas alguém que trabalha ativamente para restaurar a ordem onde há desordem, a justiça onde há opressão e a reconciliação onde há separação.

Ser pacificador implica atuar nas diversas frentes que geram e perpetuam o conflito. Isso pode significar, por exemplo, lutar contra a violência policial em comunidades marginalizadas, ou defender os direitos daqueles que são injustamente tratados devido à sua cor de pele, orientação sexual ou status econômico. Em um nível mais prático, um pacificador pode ser aquele que trabalha para criar espaços de diálogo e compreensão entre diferentes grupos, buscando superar divisões que frequentemente se tornam barreiras para a convivência pacífica.

O pacificador, segundo a visão cristã, não é um simples mediador, mas alguém que busca restaurar as relações quebradas pela injustiça. Para isso, é necessário atuar não apenas nas consequências do conflito, mas também nas suas causas. A boa notícia trazida por Cristo é que a verdadeira paz não é a ausência de conflito, mas a reconciliação dos homens com Deus e uns com os outros. Jesus é o exemplo supremo de pacificador, pois ele veio ao mundo para reconciliar os seres humanos com o Pai, superando a barreira do pecado e da separação. O cristão, como imitador de Cristo, é chamado a fazer o mesmo: restaurar relações, combater a desigualdade e promover um ambiente onde todos possam viver dignamente.

As grandes cidades, com sua diversidade e complexidade, oferecem um terreno fértil para o cristão se envolver em ações pacificadoras. Mas ser um pacificador nas cidades contemporâneas não é tarefa fácil. Em um contexto em que as tensões podem ser exacerbadas pela mídia, onde as políticas públicas muitas vezes falham em atender às necessidades dos mais vulneráveis e onde os preconceitos se perpetuam em todos os níveis, o papel do cristão como pacificador exige coragem e compromisso com a justiça.

Primeiramente, o cristão deve se engajar em um processo de autoconhecimento e reflexão. Ser pacificador começa, muitas vezes, com a paz interior, com a capacidade de reconhecer a própria tendência ao conflito, ao julgamento e à intolerância. Jesus nos desafia a amarmos os nossos inimigos e a orarmos por aqueles que nos perseguem (Mateus 5.44). A paz que Ele oferece não é uma paz superficial, mas uma paz que transforma o coração e os relacionamentos.

Além disso, o cristão deve ser um defensor dos direitos humanos e da dignidade das pessoas, especialmente dos marginalizados e oprimidos. Em uma grande cidade, isso pode significar lutar contra a exploração do trabalho, defender a moradia digna para os sem-teto ou apoiar políticas públicas que promovam a inclusão social e econômica. A paz que Jesus ensina é uma paz ativa que se traduz em ações concretas em favor dos injustiçados.

A prática da paz nas grandes cidades também exige paciência e perseverança. As soluções para os problemas urbanos não vêm rapidamente, e muitas vezes as tentativas de resolver conflitos podem parecer infrutíferas. Contudo, o cristão, como pacificador, não deve se desencorajar diante das dificuldades. Sua missão é trabalhar incansavelmente para que a justiça de Deus se manifeste em cada aspecto da vida urbana.

Jesus promete aos pacificadores que eles serão chamados filhos de Deus. Essa promessa não apenas reforça a importância da paz, mas também nos lembra de que a verdadeira paz vem de Deus. O pacificador é alguém que reflete o caráter de Deus no mundo, alguém que traz a luz da reconciliação e da esperança em um mundo marcado pela escuridão do conflito. O cristão, ao buscar a paz, está participando de uma obra divina que vai além das questões temporais e atinge o plano eterno de Deus para o mundo.

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