Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

A palavra certa para a pregação da Palavra

Publicado em 03/04/2024 às 19:00.

Como deve ser a comunicação de um professor de Bíblia? A resposta para essa pergunta envolve uma série de considerações. Devemos começar, inclusive, discutindo o próprio papel da educação bíblica. Gustavo Bertoche, na Introdução ao livro “As ferramentas perdidas da aprendizagem”, de Dorothy L. Sayers, apresenta uma oportuna reflexão: “A educação é a base da civilização: as práticas e os valores que recebemos no processo educacional são repetidos e disseminados em toda a nossa sociedade. Por isso, práticas educacionais desastrosas trazem sérias consequências para a nossa vida política e cultural. Uma escola que ensina a enganar, a mentir, a fingir que se sabe o que se ignora; uma escola que requer a realização de provas sem nenhum sentido, sem nenhuma conexão com a vida real; uma escola que nivela o conhecimento fundamental ao conhecimento de almanaque, atribuindo-lhes o mesmo tempo e a mesma medida – essa escola, a nossa escola, destrói, na própria origem, o senso das proporções epistemológicas e axiológicas 
que é o fundamento do próprio conhecimento, e adestra os seus egressos a julgar como indistintamente adequadas a ação honesta e a ação corrupta.”

Poderíamos, sem qualquer ressalva, trocar o substantivo escola por Igreja e, possivelmente, chegaríamos às mesmas conclusões. Uma Igreja que ensina de maneira errada, que dissemina uma mensagem que engana, mente e finge comunicar verdades bíblicas quando, na verdade, fabrica valores equivocados, produz crentes fracos e sujeitos a todo tipo de heresias. 

Portanto, uma comunicação assertiva, construída sob um firme alicerce linguístico evitará que as interpretações dos discursos religioso e bíblico contrariem o princípio fundamental da hermenêutica reformada que é encontrar a verdade clara conforme inspirada pelo Espírito de Cristo. Stuart Olyott escreveu: “Pecamos quando pregamos aquilo que achamos que as Escrituras afirmam, e não pregamos o seu verdadeiro significado. Também pecamos quando pregamos os pensamentos que a Palavra desperta em nosso intelecto e não aquilo que a Palavra realmente declara. Um arauto é um traidor, se não transmite exatamente o que o Rei diz. Quem ousará colocar-se diante de uma congregação e proclamar: “Assim diz o Senhor”, afirmando em seguida, no nome do Senhor, aquilo que ele não disse? Precisamos enfatizar novamente: na pregação, não existe nada – nada mesmo – que seja mais importante do que a exatidão exegética.”

Olyott acerta precisamente aquilo que é o maior problema da interpretação de um texto: desconsiderar a verdadeira mensagem original subsidiada pela intenção do autor. Com a defesa das teorias linguísticas de abertura à crítica textual, o autor perdeu o “lugar de fala”. Desse modo, perdeu-se também, em nossa época, a ideia de que existe em qualquer texto uma intenção a ser buscada. Fala-se em intencionalidade, mas de maneira a eximir o autor de sua responsabilidade, dando apenas ao texto seu valor.

Sabemos, contudo, que a psiquê do autor fornece autoridade ao texto. O intérprete, por sua vez, jamais pode desprezar essa condição autoral, sob o risco de interpretar outra coisa que não foi dita pelo autor. O texto fala por meio de seu autor. O autor deve ser responsabilizado por suas escolhas textuais. É impossível usar a palavra certa para a Palavra, se não houver uma precisão linguística na tradução, na leitura, na interpretação e na entrega do sentido do texto aos ouvintes. 

Olyott apresenta alguns princípios necessários para uma pregação pura e simples da Palavra de Deus: 

1.Exatidão exegética
2.Conteúdo doutrinário 
3.Estrutura clara
4.Ilustrações vívidas
5.Aplicação penetrante
6.Pregação eficiente
7.Autoridade sobrenatural

Todos esses sete princípios estão fundamentados na linguagem e no poder que ela tem de interação entre os usuários de determinada língua. Nenhuma comunicação haverá, se não houver eficiência e eficácia no processo interativo, dialogal e comunicativo da linguagem por meio da língua. Escolhas de palavras, ajustes sintáticos, construções semânticas e de estilo são ferramentas poderosas na execução desses processos.

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