Um pai que não disciplina adequadamente o seu filho e o torna rebelde à vista das pessoas gera sentimentos de vergonha. Um pastor que não demonstra sabedoria no falar ou no escrever e ofende publicamente as pessoas causa constrangimento a elas. Por isso, algumas vezes, o nome de Deus é desonrado entre os gentios por nossa causa (Ez 36.19-20).
Como bem destacou Tim Keller, a primeira petição da oração do Senhor “é um pedido para que a fé em Deus seja difundida mundo afora, para que os cristãos honrem a Deus com a semelhança ou a santidade de Cristo em suas vidas e para que mais e mais pessoas honrem a Deus e clamem pelo seu nome”. Essa premissa do Keller me remete ao Salmo 103.1, no qual o salmista piedosamente declara: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome”.
Um detalhe significativo nesse versículo é que a preposição “em” do “em mim” é ?????? (qe’·re?), que transmite a ideia de consciência, o lugar do interior de uma pessoa onde estão os seus pensamentos e sentimentos. E a raiz dessa palavra também nos remete à ideia de proximidade de algo ou alguém, estar rodeado por alguém. Então, podemos entender que o texto também sugere a ideia de que aquilo que eu cultivo dentro de mim (por meio de minha consciência que reproduz pensamentos e sentimentos), aquilo que está em meu coração, testemunha às pessoas ao meu redor.
Então, o meu testemunho diante das pessoas ao meu redor pode ou não bendizer o nome do Senhor, dependendo do modo como os meus pensamentos e sentimentos são externados. E devemos lembrar que a palavra “bendizer” e suas variantes que aparecem 7 vezes no salmo 103 é ????????? (brk) e tem o sentido de abençoar com palavras, louvar, transmitir palavras excelentes e nobres sobre alguém. E não é necessário dizer que as Escrituras extensamente orientam o uso de nossas palavras para o louvor do Senhor.
O que isso tem a ver com a disciplina e com a autoridade? Obviamente, toda autoridade requer honra e obediência. Paulo escreveu que devemos honrar as autoridades (Rm 13.1). Nesse texto específico, Paulo trata dos governantes. Em sua época, com a perseguição crescente contra os cristãos, não era incomum que alguns crentes pensassem em subverter a ordem imposta pelos magistrados e desobedecer civilmente aos comandos deles. Tratarei um pouco mais detalhadamente sobre autoridade no capítulo 2.
Hoje há com frequência e sempre houve aqueles que pensam que a política humana, por meio de governos temporais, pode redimir o homem de seus problemas. Sempre há aqueles que desejam se rebelar contra autoridades, no intuito de tomar o poder e governar. Isso acontece nos governos políticos, familiares e eclesiásticos. Está na natureza humana o desejo de sentar-se no trono para reinar sobre todos.
Foi por essa razão que Paulo nos advertiu para que respeitemos e honremos todos os que nos governam, porque eles não “chegaram a esta elevada posição por sua própria faculdade, mas foram postos ali pela mão do Senhor”. Portanto, quando desonramos as autoridades, que são instituídas por Deus, em pensamentos e obras, o nosso testemunho diante das pessoas coopera para que a visão da pureza de Deus seja conspurcada e, obviamente, nossa desobediência e profanação ao nome do Senhor ficam evidentes.
Opiniões vazias, julgamentos temerários, conclusões precipitadas sobre as autoridades geralmente desonram o nome do Senhor. Aliás, não somente sobre autoridades, mas sobre qualquer outra conhecimento. Cristãos que não se preparam devidamente para “responder a razão da esperança” que há neles (1Pe 3.15) correm o risco de envergonhar o nome do Senhor ao pronunciarem palavras vazias, inconsistentes e falaciosas. Pontualmente, James I. Packer afirmou que “a verdadeira reverência pelo nome de Deus conduz à verdadeira sabedoria, realista e perspicaz, e quando os cristãos parecem tolos e vazios, alguém pode perguntar se já aprenderam o que significa santificar o nome de Deus”.
O excelso nome do Senhor não deve ser desonrado por nenhum de nossos atos e pensamentos. O excelso nome do Senhor não pode sofrer profanação em razão de nossas atitudes. Isso está especialmente claro, também, no terceiro mandamento – “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. O Catecismo Maior de Westminster afirma, na resposta à pergunta 112:
No terceiro mandamento exige-se que o nome de Deus, os seus títulos, atributos, ordenanças, a Palavra, os sacramentos, a oração, os juramentos, os votos, as sortes, suas obras e tudo quanto por meio do que Deus se faz conhecido, sejam santa e reverentemente usados em nossos pensamentos, meditações, palavras e escritos, por uma afirmação santa de fé e um comportamento conveniente, para a glória de Deus e para o nosso próprio bem e o de nosso próximo.