Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

A idolatria e o cristianismo

Publicado em 28/09/2022 às 23:09.

Depois da queda de Adão (Gênesis 3.1-24), o homem sempre corrompeu sua cultura, tornando-a aberta a novas e variadas ideias e interpretações da realidade alheias aos preceitos do Senhor. Aliados ao pluralismo, outros movimentos culturais perniciosos invadiram a sociedade humana, refletindo, na verdade, o anseio pecaminoso do coração: o relativismo, com sua proposta de tornar todos os valores morais frutos de convenções humanas; o hedonismo, com a ideia de fazer o homem experimentar todos os seus prazeres, concentrando a felicidade nesse mundo; o pragmatismo, que defende que uma teoria é verdadeira se funcionar de acordo com a preferência de quem a planeja. 

Os fins, portanto, justificam os meios, pois o que vale, ao final, é o resultado favorável a quem pretendeu tal ação; e o sincretismo, que apareceu, inicialmente, como um termo político e representava a união de povos contra inimigos comuns. Posteriormente, o termo passou a designar combinações de doutrinas e práticas religiosas e filosóficas.

O contexto de 2Reis 17 aponta para fortíssimas influências sincréticas. Israel havia permitido que as doutrinas e práticas religiosas se sobrepusessem aos seus regimentos legais instituídos pelo Senhor e, com isso, admitiu em sua cultura ideias e práticas plurais, hedonistas e relativistas, antagônicas aos mandamentos de Deus.  

O texto claramente nos informa que os israelitas “andaram nos estatutos das nações que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel e nos costumes estabelecidos pelos reis de Israel” (2Reis 17.8). Israel insistiu em andar de acordo com os costumes pecaminosos dos pagãos e com aquilo que os governantes pagãos estabeleciam (1Reis 12.26-33; 16.30-34). 

2Reis 17.16 descreve uma lamentável atitude do povo israelita: “Desprezaram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, e fizeram para si imagens de fundição, dois bezerros; fizeram um poste-ídolo, e adoraram todo o exército do céu, e serviram a Baal”. Seguindo as instruções iniciais de Jeroboão, repetiram a idolatria permitida por Arão.  

Agora, como de fato o pecado não tratado resulta em mais pecado até que não haja mais salvação, eles constroem dois bezerros, em uma dose dupla de idolatria. Tornaram-se loucos, obstinados, irracionais, porque, de acordo com Paulo, todos aqueles que invertem a ordem Criador – criatura e suas relações de dependência são “loucos” e “imundos”, porque “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém” (Romanos 1.25). Israel se afundou em pecado e imundícia. 

Nossa época é semelhante à descrita em 2Reis 17. O pluralismo atual é uma forma de pensar que “tudo” é válido, de que “todas” as teorias têm o seu lugar de ser, e de que não podemos, sob hipótese alguma, buscar exclusividade de ideias ou práticas. Assim, num mundo pluralista, o cristianismo é visto como apenas mais uma religião. E é arrogância, da parte dos cristãos, considerar o cristianismo – e Cristo – como único acesso a Deus e suas ideias como únicas poderosas para transformar o ser humano integralmente.  

“Todas as religiões levam a Deus” é o pensamento e a defesa do pluralismo. Além disso, o próprio cristianismo deve se abrir para compreender as demais ideias religiosas, como se o Deus cristão fosse o mesmo deus de todas as demais religiões. 

O pastor presbiteriano Timothy Keller escreveu: “Ao longo de minhas quase duas décadas na cidade de Nova York, tive várias oportunidades de fazer a seguinte pergunta: ‘Qual é o seu maior problema em relação ao cristianismo? O que mais o incomoda nas crenças cristãs ou na maneira em que elas são postas em prática?’. Uma das respostas mais frequentes que ouço pode ser resumida em uma palavra: exclusividade”. O mundo pluralista contraria veementemente a ideia de exclusividade. Vê como arrogância e deselegância qualquer afirmação religiosa que contemple a ideia de que apenas aquela proposta é aceitável diante de Deus. Trata como intolerância qualquer forma de defesa de uma ideia definida. Valores cristãos são severamente atacados. Aqueles que defendem os valores cristãos são rechaçados na sociedade e considerados reacionários.

A construção idólatra traz consequências terríveis para quem a pratica. Ela, de fato, mata o seu idealizador ao final do processo. Ela o escraviza durante todo o período de construção, manipula suas ideias e sentimentos, desconstrói verdades e as substitui por enganos e faz com que a pessoa se hipnotize pelas promessas falsas e ande como um zumbi em um caminho aparentemente bom, mas cujo fim é a morte. Essa pessoa se torna exatamente como o seu próprio ídolo.

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