Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

A honestidade é melhor que o lucro (Pv 16.8)

Publicado em 31/05/2023 às 20:55.

Há uma teoria filosófica denominada pragmatismo, iniciada por William James e promovida por John Dewey, que defende a ideia de que as coisas são verdadeiras à medida que elas funcionam. O conceito de verdade está diretamente relacionado à utilidade de algo. Uma ação é verdadeira quando funciona. Portanto, não existe uma verdade absoluta que serve para todas as pessoas ao mesmo tempo. Não há um princípio universal que governa e orienta práticas específicas. O que existe são verdades que cada um experimenta no seu dia a dia e que podem, inclusive, ser modificadas de acordo com certa circunstância. Se uma ideia funciona para mim, ela é verdadeira para mim, mas pode não ser para o outro. 

Obviamente, essa teoria contraria o que as Escrituras ensinam. As Escrituras defendem que a verdade existe no ser de Deus. Cristo é a verdade. Portanto, todas as “verdades” que nós conhecemos provêm de uma única verdade, porque Cristo reúne nele mesmo todas as perfeições refletidas nos conceitos que conhecemos. Não há verdade, beleza ou justiça fora da pessoa de Jesus Cristo. Nesse sentido, a ética cristã impõe limites às condutas humanas. Não devemos considerar como útil ou verdadeiro aquilo que “dá certo”, mas aquilo que “é certo”. Não é porque certa prática dá resultados que consideramos rentáveis que ela é necessariamente correta. 

Muitas práticas desonestas trazem resultados imediatos de ganhos financeiros, benefícios políticos ou status sociais. Contudo, nem por isso são consideradas práticas recomendadas. O apóstolo Paulo estabeleceu que nossa conduta deve ser pautada em virtudes claras: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8). Não há espaços para relativismos conceituais, portanto, no cristianismo. 

Entendendo dessa maneira, o escritor dos Provérbios nos ensina que “melhor é pouco, havendo justiça, do que grandes rendimentos com injustiça” (Pv 16.8). Conquistas materiais que não têm origem em uma vida honesta, justa, sábia e altruísta produzirão perdas espirituais e relacionais. Ser honesto é melhor que “levar vantagens”. O Senhor despreza a iniquidade, porque “o amor não se alegra com a injustiça” (1Co 13.6). “Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação” (Pv 15.16).

Em um país como o Brasil, no qual, infelizmente, experimentamos níveis altíssimos de práticas corruptas em diversas esferas sociais, políticas e econômicas, com o famigerado “jeitinho brasileiro” sempre se sobressaindo à ética cristã, é necessário refletirmos sobre a urgência de princípios claros e não relativistas ou pragmáticos. Quanto mais próximos estivermos das virtudes orientadas pela Palavra de Deus, que são princípios universais, mais perto estaremos de estabelecer uma ética de honestidade, justiça e sociabilidade.

O povo de Deus no Antigo Testamento por várias ocasiões foi orientado a não perverter a justiça e a não aceitar subornos: “Suborno não aceitarás, porque o suborno cego até o perspicaz e perverte as palavras dos justos” (Êx 23.8). Muitos juízes e reis foram exortados a não decretarem leis injustas que oprimiam o povo e que negavam o direito aos pobres, viúvas e órfãos (Is 10.1-2). Aqueles que pensam apenas em bens materiais, especialmente adquiridos com injustiça, transtornam sua própria casa: “O que é ávido por lucro desonesto transtorna a sua casa” (Pv 15.27). Riquezas mal adquiridas causam feridas profundas. 

Nossa vida, portanto, deve ser dirigida por princípios virtuosos perenes que não estejam sujeitos às variações culturais. Não devemos submeter nossa ética a valores relativos e utilitários. Nossas escolhas devem ser pautadas em princípios claros estabelecidos na Palavra do Senhor. Como o salmista afirmou, “escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos teus juízos” (Sl 119.30). Viver honestamente é de fato uma decisão. Decidir-se por se manter fiel a princípios cristãos e a não se manchar pela corrupção espiritual e cultural é tarefa das mais complexas. Todavia, uma escolha dessa natureza produzirá sempre bons frutos, ainda que esses frutos não sejam necessariamente materiais.

Um viver honesto, justo e sábio sempre produzirá uma consciência tranquila. Quem escolhe viver por princípios e não por circunstâncias cultiva a fé e a esperança. Dorme o doce sono da tranquilidade. Aprende a depender de Deus e a ser grato por todas as conquistas, ainda que pequenas. Reconhece que sua vida não está nos bens que possui nem somente neste mundo, mas aguarda com expectativa outro lugar, no qual todas as recompensas reais serão destinadas àqueles que permaneceram íntegros e fieis.

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