Jonas esteve por três dias e três noites no ventre do grande peixe. Não pensemos nisso como uma coincidência. Quando Deus chamou Abraão para sacrificar Isaque, a viagem também durou três dias. Deus chamou Abraão, e “ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe” (Gn 22.4). No coração de Abraão, Isaque morrera três dias antes. Os três dias de viagem até o monte Moriá era uma forma de Deus preparar-lhe para o luto. O tempo de angústia e profunda dor e sofrimento pode ser Deus nos ensinando a depender dele somente. Ele fez assim com Abraão. E estava fazendo o mesmo com Jonas. Três dias.
Não é possível desconsideramos também a similaridade com Jesus Cristo. Ele também esteve na sepultura por esse período e, ao terceiro dia, ressuscitou. Esse é um aspecto do “sinal de Jonas” mencionado por Jesus em Mateus 12.39-41. Após ser humilhado pela morte, Jesus Cristo venceu a morte. Jonas prefigurou essa vitória ao ter ele ficado morto no interior do peixe, nas profundezas dos mares, e ressuscitado ao terceiro dia. A diferença, porém, é que Jonas não ressuscitou por seu próprio poder. A vida lhe foi restabelecida pelo Deus da vida, “pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28). Jonas pensava que iria morrer, mas Deus lhe desejava vida abundante, a fim de que ele pudesse testemunhar a soberana graça da salvação.
Alguns comentaristas sugerem que Jonas teria de fato morrido, como o próprio Jesus morreu. Isso pode ser verdade. Ele pode ter morrido e Deus o trazido de volta. O fato é que, tendo morrido literalmente ou não, de qualquer modo sua sobrevivência no ventre do peixe por três dias e três noites foi um milagre. Além disso, Jonas de fato merecia morrer. Ele fez todo o caminho para isso. Ele fugiu do Senhor e pediu aos marinheiros que o jogassem ao mar. Ele pretendia morrer e merecia isso em razão de sua desobediência.
Assim como Jonas, nós também merecemos morrer. Merecemos morrer física e espiritualmente. Nós somos desobedientes ao Senhor. Pecamos contra Deus. Desprezamos a lei de Deus. Confiamos em nossos próprios recursos. Colocamos nossos desejos sempre à frente dos desejos de Deus. Nosso coração é enganoso. Nós merecemos morrer. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.4-10).
Jonas precisava passar por uma experiência caótica a fim de entender a soberania e o poder triunfante da graça do Senhor. Assim como Jonas, nós também muitas vezes precisamos passar por experiências caóticas, a fim de compreendermos a operação da graça de Deus sobre nós. Isso também é parte da providência de Deus, que visa sustentar, dirigir, dispor e governar toda a sua criação para a glória de seu nome. Por isso, como nos ensina a Confissão de Fé de Westminster, “V. O mui sábio, justo e gracioso Deus muitas vezes deixa por algum tempo seus filhos entregues a muitas tentações e à corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e dolo dos seus corações, a fim de que eles sejam humilhados; para animá-los a dependerem mais intima e constantemente do apoio dele e torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecar, para vários outros fins justos e santos”.
Como afirmou o pastor João Calvino, ao tratar acerca da secreta providência de Deus, “somos caídos e seríamos novamente arruinados mil vezes se a virtude não viesse do céu a cada momento. Àqueles a quem elege, Deus sustenta com invencível força de perseverança”.
Deus deixou Jonas exposto aos desejos de seu próprio coração, humilhou-o, castigou-o por seus pecados; mas, ao mesmo tempo, por sua graça, resolveu animá-lo, “torná-lo mais vigilante contra as futuras ocasiões de pecar”. Deus queria não apenas que Jonas levasse a mensagem. Deus queria que Jonas fosse a mensagem. Por isso, a graça de Deus o alcançou soberanamente triunfando sobre a sua desobediência.
Então, Jonas orou ao Senhor.