Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou que “quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por achá-la-á” (Mt 10.39; 16.25 – destaques nossos). Este é o maior paradoxo da vida cristã: morrer para viver. Só vale a pena viver por algo pelo qual vale a pena morrer. E só vale a pena morrer por algo pelo qual vale a pena viver. Essa foi a profunda compreensão do apóstolo Paulo ao escrever aos filipenses revelando a ambiguidade de sua missão: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne. E, convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé, a fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença, de novo, convosco” (Fp 1.21-26).
Mais à frente, no capítulo 3, Paulo afirmou: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.” (Fp 3.7-11).
À medida que renunciamos aos nossos mais misteriosos e profundos desejos pelos prazeres desse mundo, nossas equivocadas convicções religiosas, nossa autossuficiência, nossa suposta autonomia, nossos méritos, nossa justiça própria, nossos métodos, nosso “paroquialismo patriótico”, então poderemos começar a pensar se estamos vivendo a vida cristã de maneira correta.
As Escrituras e a história nos mostram exemplos de pessoas que só começaram a ganhar depois que abandonaram essas coisas. Foi preciso cair para que apreendessem a se levantar. Elas precisaram perder para ganhar. O apóstolo Pedro precisou abandonar a confiança em si mesmo para tornar-se o pastor que Deus desejava que ele fosse. Ele era impulsivo. Falava sem pensar. E enquanto ele nutriu em seu coração soberba religiosa de pensar que seria capaz de sustentar sua confissão de fé em Jesus por si mesmo, ele demonstrou que seus olhos estavam no lugar errado. Ele confiava em si e não em Jesus. Somente quando o Senhor Jesus fixou o seu olhar em Pedro é que ele se arrependeu de seu pecado. Lucas narra assim: “Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente” (Lc 22.61-62).
Conhecemos também a história de John Newton. O pastor John Piper escreveu sobre John Newton: John Newton nasceu em 24 de julho de 1725, em Londres, com uma mãe piedosa e um pai marinheiro irreligioso. Sua mãe morreu quando ele tinha seis anos. Deixado principalmente por si mesmo, Newton se tornou um marinheiro debochado – empurrado para o serviço naval, contra sua vontade, aos dezoito anos. Seu amigo e biógrafo Richard Cecil disse: “Os companheiros que ele conheceu aqui completaram a ruína de seus princípios” (Memoirs of the Reverend John Newton, 1:9). De si mesmo, Newton escreveu: “Eu era capaz de qualquer coisa; não tinha o menor temor de Deus diante dos meus olhos, nem (pelo que me lembro) a menor sensibilidade de consciência” (Memoirs, 1:12). Em 21 de março de 1748, em uma viagem do navio para a Inglaterra no Atlântico Norte, Deus agiu para resgatar o “blasfemador africano”. Newton acordou com uma tempestade violenta quando seu quarto começou a se encher de água. Ele foi designado para as bombas e ouviu a
si próprio dizer: “Se isso não acabar bem, o Senhor tenha piedade de nós” (Memoirs, 1:26). Foi a primeira vez, em muitos anos, que expressou a necessidade de misericórdia. Ele trabalhou nas bombas das três da manhã até o meio-dia, dormiu por uma hora e depois assumiu o comando e dirigiu o navio até meia-noite. Ao timão, ele teve tempo de refletir sobre sua vida e sua condição espiritual. Por volta das seis horas da noite seguinte, parecia que havia esperança. “Pensei ter visto a mão de Deus mostrada a nosso favor. Comecei a orar: não conseguia proferir a oração da fé; Não consegui me aproximar de um Deus reconciliado e chamá-lo de pai... Os princípios desconfortáveis da infidelidade estavam profundamente cravados... A grande questão agora era: como obter fé” (Memoirs, 1:28).).