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A Autoridade Justa: Liderança com Clareza, Caráter e Coragem

Publicado em 06/11/2025 às 05:26.

Vivemos em uma era de suspeita. A autoridade — seja ela política, eclesiástica, parental ou institucional — tornou-se alvo constante de críticas, algumas justas, outras nascidas da desilusão generalizada que marca a sociedade contemporânea. Em meio a escândalos de corrupção, abusos de poder e negligência moral, muitos passaram a associar liderança à opressão, comando à dominação, e autoridade à tirania. Porém, nem toda autoridade é tirânica. Nem todo líder busca engrandecer a si mesmo. Ainda é possível — e necessário — recuperar o conceito de uma autoridade justa, exercida com clareza, caráter e coragem.

A tradição bíblico-reformada sempre tratou a autoridade como um chamado, e não como uma conquista pessoal. Autoridade, para esse referencial, não se impõe pela força ou manipulação, mas é recebida com temor diante de Deus, que é o único soberano absoluto. O apóstolo Paulo, por exemplo, escrevendo aos cristãos de Corinto, descreveu sua liderança não como domínio sobre a fé dos outros, mas como serviço em prol da alegria deles (2Co 1.24). Já o Senhor Jesus ensinou que o verdadeiro líder é aquele que se faz servo (Mt 20.25–28). Essa inversão de valores confronta frontalmente os modelos autoritários que ainda predominam em muitos espaços, inclusive em contextos religiosos.

Jim Wilson, em sua obra Principles of War, argumenta que uma autoridade justa não pode ser confundida com controle arbitrário. Ele enfatiza que a verdadeira liderança deve ser exercida a partir de uma missão clara e de um caráter íntegro. Um general em batalha não ordena movimentos sem propósito, tampouco lidera com base em preferências pessoais. Seu comando deve ser motivado pelo bem da tropa, guiado por princípios e ajustado à realidade do campo. Da mesma forma, um pai, uma mãe, um pastor, um professor ou um gestor público precisa compreender que sua autoridade só é legítima se for exercida com clareza de propósito, respeito ao próximo e coragem moral.

A clareza envolve mais do que capacidade de comunicação: trata-se de coerência entre o que se espera, o que se pratica e o que se ensina. Quando líderes falham em estabelecer limites justos, quando mudam de direção ao sabor dos ventos ou quando falam de ética sem praticá-la, a autoridade é corroída. O resultado é uma geração desconfiada, cínica, desorientada. Uma das tragédias do nosso tempo é a proliferação de lideranças carismáticas, mas vazias de princípios; há muito brilho, mas pouca substância.

O caráter é o eixo invisível da liderança. Ele é forjado na vida privada, nas decisões silenciosas, nos compromissos que ninguém vê. Caráter não é perfeição, mas integridade: uma vida inteira voltada para aquilo que é bom, justo e verdadeiro, mesmo quando custa caro. Em tempos de pós-verdade, quando muitos relativizam o bem e o mal, líderes com firmeza moral tornam-se raros — mas indispensáveis. Um líder justo é aquele que resiste ao favoritismo, à vaidade, à tentação de usar sua posição para benefício próprio. Ele é, antes de tudo, um servo do bem comum.

Já a coragem moral é aquilo que sustenta o líder diante da pressão. Não basta saber o que é certo: é preciso agir de acordo. O governante justo não cede à opinião popular quando ela contraria os valores fundamentais. O professor íntegro não molda seu conteúdo para agradar, mas para formar. O pastor fiel não busca aplausos, mas prega o evangelho com amor e verdade. A coragem não é ausência de medo, mas a firmeza de se manter fiel mesmo em meio à oposição. E como o próprio Cristo demonstrou, essa fidelidade pode custar tudo.

Num mundo em que muitos confundem autoridade com opressão, e liderança com manipulação, é urgente resgatar o modelo de liderança como serviço. Não se trata de idealismo religioso, mas de uma necessidade ética para a saúde de qualquer sociedade. Onde há líderes justos, há confiança. Onde há líderes íntegros, há esperança. Onde há líderes corajosos, há transformação.

O exercício justo da autoridade não depende apenas de habilidades técnicas, mas de convicções morais. Ninguém nasce pronto para liderar com justiça — é preciso formação, vigilância e compromisso com algo maior que si mesmo. A tradição reformada nos lembra que todo líder será um dia julgado por aquele que reina com justiça perfeita. Isso confere à autoridade humana tanto limite quanto responsabilidade.

É possível liderar com justiça. É possível exercer autoridade sem opressão, comandar sem autoritarismo, influenciar sem manipular. Em tempos de cinismo e desilusão, é esse tipo de liderança que precisamos: clara em seus propósitos, firme em seu caráter, corajosa em sua missão. O mundo pode estar cansado de líderes. Mas jamais deixará de precisar dos justos.

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