A casa nunca fazia silêncio.
Andava em todo seu entorno em busca do nada, e por mais que achasse os cantos mais escondidos atrás de árvores e bancos de metal e madeira já muito envelhecidos pelo sol e chuva constantes, ainda podia ouvir. E ouvir era demais.
Estou cercada de árvores e pássaros que se agitam alvoroçados, confundidos pelo tempo que tem mudado rápido até para eles que julgo moradores antigos.
Seria eu o constante sobressalto?
No outro lado do muro habitam pessoas que comem, veem televisão e pouco se importam com a minha busca. Dispersos, quase que como a esperar algum imprevisto que os assole desde que seja uma conta mais alta ou alguma doença que não seja tão grave.
No jardim o chão se precipita e se estende em musgo, poças de lama e objetos desconexos que descombinam muito com aquela cena: algumas latas de tinta, vassouras, fios soltos… O homem toca em mais coisas do que pode cuidar.
O sol queima pouco por estarmos no outono.
Junto, dançando essa valsa ritualística e impensada, um cachorro late apressado a alcançar a moto, ou outro cachorro, ou alguém que passa. Eu não vejo.
No fundo, crianças parecem se divertir descalças, rolando uma bola de um lado para o outro, entre chutes e saltos no asfalto grosso.
Continuo, certa de que meus olhos correram por toda tela sem encontrar nenhum ambiente capaz de caber todo barulho que carrego em mim.
A vida tem formas muito complexas de se mostrar, e sempre simultaneamente impedindo que a gente veja a outra realidade que se exibe tímida.
Um limão caí do lado de cá do muro, impacto ritmado com o nó na garganta que aperta seco.
A vida não para nunca e talvez fosse por isso que passasse tanto tempo no banheiro. O eco. A previsão do que viria. A água correndo no topo da cabeça isolando tudo ao redor e inundando os olhos que poderiam ou não estar chorando.
O mundo não para pra mim, que fico muda.
Fecho os olhos, e embora saiba que não saí do meu banheiro, estou em qualquer lugar. Parada. Não sinto frio e nem nada.
Somente o silêncio e eu, que admiro no espelho surpresa da descoberta.