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Quarta-Feira,16 de Outubro
Sarah SanchesMãe, empresária, escritora, fotógrafa e barista

O que fica depois da dor?

Publicado em 31/08/2023 às 22:37.

Nesta semana, assisti um filme que parecia muito com os meus sonhos. Um cenário comum, coisas aparentemente ordenadas, letreiros e canções que embora eu não conheça, pareciam familiares… Como se alguém tivesse pegado o meu sonho e transformado em filme para que eu assistisse acordada.

Quis muito dividir isso com você. Você poderia, finalmente, ver o que eu via aqui de dentro da minha cabeça na tela da televisão. Será que teria paciência? Falo, porque você sempre gostou de filmes de ação, cheios de lutas ou tiros. Enfim. Sei que dormiria no sofá, com a chave do carro e os óculos no escoro. 

Essa semana tem sido bem cansativa, tenho saindo de carros e entrado em carros desconhecidos, saído de laboratórios e consultórios insólitos, estou com os braços “queimados” pelos exames de sangue e quase consigo ouvir você dizer que eu procuro doenças. O pior é achá-las, e riamos juntos. 

Agora, tem eu de uma forma que ainda não conhecia, sem a parcela que me fazia ser alguma coisa inventada por você, que foi embora quando você se foi. Não sei se melhor, se pior, um pouco mais amadurecida com certeza. Mais saudosa também. Um eu novo que teve que renascer e renascer é quase como a morte, né?! Dói. 

O quarto ficou do mesmo jeito. Quase vejo você deitado coberto até a cabeça, protegido dos males noturnos (muriçocas) e das assombrações que te perseguiam. O espelho quebrado do retrovisor improvisado no cabideiro que mostrava somente uma parte do rosto, fragmentado, o guarda-roupas que guardava contas e rapaduras, todos te esperam pra nunca mais, inocentes da sua falta. 

O picolé sagrado surpreendentemente tem o mesmo gosto de todos os picolés ordinários, e eu acho que isso de alguma forma me acalenta, como se as coisas boas fossem boas por elas mesmas, pela sua própria natureza, e não pela mágica que você dava a elas. 

Ainda não ouvi as suas músicas, mas sei que estão lá. O CD que me fez gravar pra gente ouvir junto no carro a caminho de qualquer lugar. CD! Ríamos tanto a falar da vida, do trabalho, dos meninos e as emboladas tocando ao fundo! O que fica é novo em folha e tem gosto do que a gente já conhece e sente saudade. 

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