Insistia com a minha psicóloga nessa negativa como quem confessa um pecado, afinal sou uma mulher.
Ela, sorrindo com o ar de quem foi pega de surpresa dispara que eu já sou casada embora Deus desconheça esse matrimônio, pela lei ao morar com o dito namorado já se configura um acordo matrimonial com nome específico e possui até direitos resguardados.
Carimbo, bençãos e muita fartura é só para os mais afortunados, ou mais românticos, ou apenas os mais dispostos, quem sabe. Muitos são apenas sonhadores, nem estão pensando tanto no casamento em si, e aí é só ladeira abaixo.
Abandona-se as flores, os bem-casados, aquela ansiedade ao entardecer sabida do marido cansado pronto para cair em seus braços, pela refeição noturna a fazer, o tanque com as roupas sujas de molho, as crianças que ainda não se deitaram e possivelmente não escovaram os dentes. Nem você escovou os dentes.
E não tem fórmula. Cada um ama a sua maneira, e na maioria sempre esperam alguma coisa em troca que supra com suas expectativas. No final, cada um dá o amor que tem. E nem sempre o amor do outro é do jeito que a gente quer ser amado. Mas é o máximo de amor que ele sabe amar. Entender isso leva mais tempo que assinar um papel.
No passado eu ainda sonhava: um vestido deslumbrante, flores, acenos cordiais das pessoas que quando me vissem enchessem os olhos de água…, mas tudo isso acabou desaguando.
Eu me tornei a típica mulher de 30 anos que viveu o casamento sem de fato se casar, e achou tudo isso muito cenográfico. Uma atuação que não convence. Uma espécie de filme de sessão da tarde pronto para te convencer que é tudo muito bom, basta colocar uma rubrica ou seu nome por extenso sem abreviar.
Mas não achem que sou contra o amor, isso não.
Sou contra o amor assinado, mal escrito, mal diagramado e cafona.
Prefiro a singeleza marginal das promessas feitas no peito do outro, ou dentro da boca e sussurradas com tom aveludado no pé do ouvido.
O dia a dia surtado, cheio de percalços que nos tiram do sério e que juntos tentamos vencer. Nossos leões.