Que coisa louca a sociedade!
Gente subindo em gente pra comer gente e cuspir em gente. Gente que não enxerga gente pra depois gritar na TV que não é visto por outro tipo de gente.
Gente que age como fosse dono da gente…
Que diferença faz no sagrado manto social sair de excluído para recusado? Que um ou dois ou mil se contentem e briguem entre si pelas migalhas dispostas nas prateleiras de supermercado?
Tem gente andando agora tranquilamente em alguma praia do Rio de Janeiro. Ou fazendo aquela leitura tranquila da manhã enquanto posta um story.
Falaram tantas vezes que eu moro em uma cidade provinciana, coronelista, que não saímos (e por conta própria!!!) dos nossos quintais para exigir alguma coisa. Algum outro tipo de migalha, pelo menos. Que tô acreditando. E mais do que isso, tô vendo. Aí entendo meu irmão, a Ana Paula Arósio, as freiras carmelitas, os budas tibetanos. Vipassana passa a ser um sonho.
Ou andar de bicicleta escutando Bicycle Race do Queen no fone no máximo. Sinto frio, meu corpo dói, meus cabelos caem… mas que diferença faz? Alguém que você ama está no hospital comendo sal, todo roxo e amarelo. Sem brilho nenhum.
Sem poder andar de carro pelas ruas com os netos e bisnetos todos indo ou voltando de algum lugar.
Mas também tem a reunião, tem o exame e a consulta. Alguém com certeza terá que lavar as roupas. Quem será esse tipo de gente? E quem será o outro tipo que enquanto isso pode articular, manipular e fingir?
E tem gente que ainda duvida. Que pergunta pra gente, essa gente aí é tudo sua? E depois te dá uma batidinha nas costas. Gentinha!
Gente que tem o rei na barriga… E quando você olha, o rei tá pelado. Vamos comprando no varejo pra garantir o atacado.
E no fim sobra o que pra gente? Arriscar pra petiscar, né? E vamos arriscando vida de gente que ainda nem nasceu. Mas quando é que vira gente?
Quando parece ou assim que inicia? Ou só quando dói? Sei não, deixa essas questões pra gente grande.
Eu sou gente muito pequenininha. Que olhando assim, nem parece gente.
E tem gente assim, que nem eu, que olha pra gente e ainda vê motivo pra acreditar que vale a pena ser gente.