E depois dizer que tudo não passou de um delírio coletivo, que somos melhores separados habitando as nossas próprias cabeças egoicas, e que você é o culpado por todos os meus vícios, por todos os meus desesperos e ausências. Depois vou chorar como se por alguma razão pouco conhecida o meu cérebro tivesse desconectado e todas as conexões possíveis teriam a sua marca. Como se todas as ligações só chamassem o seu número.
Como faço pra pegar a sua senha?
A senha de entender a sua série, a senha que abre a porta do seu peito e te faz amplo, grande, imenso e que me cabe dentro. Eu assim toda exagera.
Eu cheia de flores. Eu colorida.
As vezes acho que eu te invento demais, que eu suponho e que na verdade não é nada disso. Que a minha versão nem chega a ser um esboço, isso porque me esforço. Você é mais simples e manso. Tem cheiro fresco de sabão de limão siciliano. Faz barulho quando dorme. Sonha quase nunca (ou não lembra).
Agora que tá gripado e ficou mais fácil depois do meu avô, cuidar de um ser adulto, é que eu tô vendo. Adulto também precisa de cuidado quando gripa. E precisa de comida quente, de colo perto, mãos juntas nos lençóis que nunca vi tão brancos…
Até quando não gripa, quando o único cuidado é ofertado gratuitamente, de brinde. E eu como toda boa brasileira, aceito. Te aceito assim queixoso. Febril e lindo.
Antes dele eu nunca tinha cuidado de adulto nenhum. Não é ordem natural das coisas, não é assim que eu tenho visto e reparado fora da janela, nessa vida que até então era todo esse mix de vontades&desejos e agora sou eu e ele com todos os seus preenchimentos. Alagando tudo. Transbordando e exigindo.
E olha que eu gosto de ficar sozinha.
Antes dele eram os meninos esparramados, os meus irmãos brincando, poucos primos.
Nunca fui de cuidar de amiga. Já tive o cabelo segurado em algumas privadas por aí, mas nunca tive a visão de cima.
Será que vai ter paciência?
Será que não passa de carência?
Será que no fim vou me acabar num copo de cerveja?