E depois ir na psicóloga falar que não aguento mais, que não me vejo nas coisas ao meu redor e que o castelo mais se parece com uma masmorra esquecida no meio do nada do que um lugar habitável. As paredes são estranhas. Os empregados falam alto e são cheios de sorrisos arrependidos. Eu comecei a sentir ódio deles. Ódio de como me tratavam para depois falar entre si, conspirar, trair. Por causa deles agora todas as pessoas do mundo me pareciam desconfiadas, maliciosas. Como se todo mundo estivesse só esperando uma fragilidade pra dar o bote. Queria ir embora, deixar tudo pra trás, não ser nada além de eu. Nem me lembro como é mais a sensação. Ser eu completamente e desesperadamente. Esse vazio me engolindo sem que eu conseguisse escapar. Me afogando sem nunca emergir mas também sem morrer. Esse estado que nada acontece mas você está por um fio.
E aí me apego nele.
É quando ela me lembra que eu amo sim. Ela sempre me lembra todas as vezes que eu de certa forma declarei o meu amor.
Não sei o quanto isso é bom.
Esses sentimentos todos. Me sinto como um recém nascido que estranha tudo, vendo o mundo pela primeira vez e tudo dói mas eu não sei que é dor. Eu só sei que algo precisa ser feito.
Arranje um hobby ou alguma coisa bem de mulherzinha porque é isso que você é. Plante flores. Faça um bordado ou algo assim. E aí mais nada.
Quando eu deitar na cama todas as coisas vão rodar na minha cabeça até que eu consiga dormir e finalmente viver.
Nos meus sonhos eu quase sempre me vejo em primeira e terceira pessoa, o que dá uma sensação incrível de assistir um filme. É como se eu fosse Deus. Quase sempre eu posso voar. Quase sempre estou fugindo.
Não é estranho que meu cérebro não consiga simplesmente nomear: essa é sua nova vida e pronto, se acostuma instantaneamente a uma vida que claramente é de outra pessoa. De alguém que eu admito, até possa ter contribuído nessa criação, mas que eu me recuso a ser.
Me recuso a engolir mas também não cuspo de volta. O tal do dar a outra face.
Não sei se vou sobreviver.