Essa semana vi uma reportagem falando sobre uma moça, mãe de dois filhos, que havia sido assassinada em um motel desativado da cidade. Não fosse a tristeza já rotineira pelo fato em si, mais tarde soube que era alguém que havia estudado na mesma escola que eu, e além, morado bem próximo a casa da minha avó.
Eu me lembro dela. Lembro como era alegre, como era comunicativa e tinha um jeito específico bem engraçado de falar. Era o jeitinho dela. Nunca fomos próximas, não fomos da mesma turma mas eu consigo me lembrar desse jeito de ser.
Analisando pelo pouco que a reportagem esclarece, acho que ninguém consegue evitar de chegar a pergunta do que leva uma jovem adulta estar num local como esse, um motel desativado, ermo, marginalizado e sujo, com uma pessoa que apresentava riscos a ela, e eu vi muitos comentários que já tiravam conclusões, principalmente aquela conclusão quase “óbvia” que vem na cabeça de quem já viu aquele lugar e no que ele se transformou. Esse não é o mérito.
Quantas vezes eu vi amigas, amigas próximas, que trabalham, tem suas vidas estabilizadas, que estão com suas contas em dia; quantas vezes eu vi mulheres maduras, mulheres que viveram uma vida inteirinha, uma vida boa até, mulheres cheias de viços e marcas do tempo; quantas vezes eu vi mulheres que se fizeram mulher só depois, muito depois do nascimento; e mulheres que depois viram que mulher era tudo que elas não queriam ser; muitas vezes a mulher era eu; todas sofrendo do mesmo e inconfundível mal, mal maior, mal contra o que há dentro de todos, mesmo nos homens, isso que destrói por ser feminino, que arranca o que é precioso, que suja as mãos de sagrado. Mal esse que começa sendo pequeno, engraçado, que diverte a mesa, põe à prova e quase sempre falha. Que não distingue.
E do outro lado nós, mulheres do século vinte-e-um, que podem ser doidas de carteirinha, que escolhem mesmo que mal, as vezes, seus parceiros (e tem como não estar em risco?), que topam qualquer parada. Que são pau pra toda e qualquer obra. Nós que somos doidas de ir até o fim pra ver o que dá. Mas é esse fim mesmo que tá no script?