Ensinar Psicologia sempre foi um grande desafio, porque o ser humano é complexo demais para ser compreendido por uma única lente. Há diferentes maneiras de olhar para os fenômenos psicológicos, e cada uma delas revela algo importante.
Um caminho é o explicativo, que investiga causas e condições. Ele pergunta: “o que provoca esse comportamento?” É o olhar que busca dados, condições neurobiológicas, estímulos ambientais.
Outro é o interpretativo, que se debruça sobre o que não aparece de imediato: símbolos, desejos inconscientes, narrativas ocultas. Ele procura responder: “O que está por trás deste comportamento? Que histórias silenciosas essa pessoa carrega?”
Há ainda o compreensivo, que se volta para o sentido da experiência. Em vez de analisar causas ou interpretar conteúdos, ele pergunta: “o que isso significa para esta pessoa, em sua história de vida?”
Um olhar fenomenológico contribui ao propor que esses caminhos não sejam vistos como rivais, mas como olhares complementares. Descrever a experiência humana com fidelidade significa integrar dados objetivos, interpretações profundas e sentidos existenciais.
Na formação em Psicologia, essa integração deve se concretizar no diálogo entre diferentes abordagens. As Diretrizes Curriculares da Psicologia no Brasil também apontam nessa direção: formar profissionais capazes de integrar bases científicas e técnicas, múltiplos referenciais teóricos, e uma prática ética e humanista. Esse é o desafio: uma formação generalista, multi e interdisciplinar.
No fim das contas, formar psicólogos é cultivar em sala de aula aquilo que eles precisarão levar para a vida profissional: a capacidade de descrever a realidade humana, integrando explicação, interpretação e compreensão, para que o cuidado psicológico seja, de fato, fiel à complexidade da vida.
*Psicóloga Clínica e professora