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Domingo,5 de Outubro

O cuidado psicológico a pacientes queimados: entre dor, resiliência e reconstrução

Nágila Viviany Gomes Freitas*
Publicado em 03/10/2025 às 19:00.

O atendimento psicológico a pacientes queimados exige sensibilidade, preparo técnico e compreensão profunda do impacto que uma queimadura pode gerar na vida do indivíduo. Mais do que uma lesão física, a queimadura atravessa a identidade, a autoimagem, as relações sociais e a forma como a pessoa passa a se perceber no mundo.

Desde o momento da internação hospitalar, o paciente enfrenta dor intensa, procedimentos invasivos e a incerteza quanto à recuperação. Nesse contexto, o psicólogo atua oferecendo suporte emocional imediato, ajudando a reduzir a ansiedade, favorecer a adesão ao tratamento e mediar a comunicação entre equipe, paciente e familiares. A escuta qualificada torna-se essencial para dar espaço às emoções de medo, angústia e tristeza.

À medida que a reabilitação avança, outros desafios emergem. Alterações na aparência física podem provocar sentimentos de vergonha, isolamento social e até rejeição. O psicólogo trabalha, então, no fortalecimento da autoestima, na reconstrução da identidade e na preparação para o retorno à vida social e profissional. Técnicas de manejo de ansiedade, intervenções focadas em resiliência e apoio no enfrentamento da dor crônica são ferramentas valiosas nesse processo.

A família também necessita de acompanhamento, pois muitas vezes experimenta sofrimento intenso, medo da perda e sobrecarga com os cuidados. Incluir familiares na intervenção promove um ambiente de maior acolhimento e suporte.

O trabalho psicológico com pacientes queimados é, portanto, um cuidado que ultrapassa a dimensão clínica: é um convite a ressignificar experiências, encontrar novos sentidos e reconstruir trajetórias de vida. 

O psicólogo, nesse caminho, não apenas alivia o sofrimento, mas também fortalece a esperança, ajudando o paciente a se reconhecer como sujeito de possibilidades, apesar das marcas visíveis e invisíveis que a queimadura deixa.

ANGELOTTI, G.; OLIVEIRA, A. R. (orgs.). Psicologia em Emergências e Desastres: cuidando de quem cuida. São Paulo: Vetor, 2017.

ROSSI, L. A.; COSTA, C. S. Enfermagem em queimaduras. Ribeirão Preto: EERP-USP, 2003.

VOLPI, R. Psicologia da dor: aspectos clínicos e hospitalares. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

*Psicóloga

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