Durante a pandemia, longe das escolas e de outras atividades fora de casa, as crianças, além de se tornarem vítimas de maus tratos, acabaram sendo exploradas pelas famílias que, por vezes, se viram sem ter meios para sustentar a todos. Passou, então, a ser normal crianças nos semáforos pedindo ou vendendo balas, panos de pratos, chocolates...
Se de fato queremos construir uma sociedade baseada em cidadania, situações como essas não podem se tornar comuns, não podem ser naturalizadas. É preciso pararmos para refletir sobre o valor da infância e suas experiências.
Não estamos falando da inclusão das crianças em atividades simples, como arrumar a cama, enxugar uma louça, por exemplo, pois, na maioria das vezes, o equilíbrio emocional, as habilidades e o senso crítico são mais eficazmente construídos pelo empirismo do que pelas teorias.
Pequenas tarefas, sem dúvidas, vão ajudar no aprendizado e na maturidade. Mas é preciso que elas tenham o direito de viver a infância, com suas brincadeiras, com o tempo livre e, sobretudo, com tempo para os estudos.
Mas não se pode confundir trabalho infantil com atividades orientadas pelos pais numa determinada tarefa. Trabalho infantil é a exploração, o aproveitar-se da ingenuidade e da conduta indefesa das crianças para colocá-las em situações de risco.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 168 milhões de crianças em todo o mundo estão em situação degradante por causa do trabalho infantil, o que representa cerca de 11% dessa população. Para piorar a situação, mais de 85 milhões delas realizam trabalhos perigosos, que colocam diretamente em risco a saúde, segurança e o desenvolvimento moral.
Não podemos fechar os olhos para tanta crueldade e tanto desrespeito aos nossos semelhantes, principalmente quando eles são crianças indefesas. Toda criança tem o direito de ir para a escola, brincar e de ser simplesmente criança. Uma infância feliz é a nossa maior riqueza que pode, verdadeiramente, mudar o mundo. Que o Estatuto da Criança e do Adolescente seja verdadeiramente uma lei em defesa da vida.