Os presépios me acompanham desde a minha infância. Uma tia-avó , quando chegava dezembro já começava a tingir papéis , tipo sacos de papel bem grandes e fortes; ela os abria e tingia-os com uma tinta artesanal caseira feita com goma, água e carvão moído. Pintava-os com as próprias mãos com rajadas de tinta cinza dando aquela nuance de preto acinzentado. No dia 13 de dezembro ela semeava em latas pequenas arroz com casca, que germinava como um capim verde claro e seriam dispostas entre as pedras. Na semana em que antecedia o Natal era a hora de armar o presépio. Com aqueles papéis pintados ela lhes dava o formato de pedras e as encostava umas às outras , às vezes do alto do telhado até ao chão donde surgia uma gruta de uma beleza incomparável.
No interior da gruta ela dispunha a família sagrada: Jesus, Maria e José; os reis magos vinham um pouco mais distantes para sua visita e os pastores conduzindo o rebanho.
Fiquei perdida em encantamento quando visitei o presépio de Grão Mogol. Meu Deus!!! Quanto amor à terra natal; quanto desprendimento em forma de gratidão!
O empresário Lúcio Bemquerer , 74 anos, na época, decidiu se aposentar em 2009 . Deu por encerrada uma trajetória profissional que incluiu várias atividades. Quis voltar à sua pequena cidade, Grão Mogol, da qual se afastara, por vinte anos, sem revê-la uma única vez.
Viveu aí até aos 12 anos mudando-se, então, para Montes Claros e, depois para Belo Horizonte.” Desejava fazer alguma coisa por Grão Mogol, mas não sabia o quê. Queria algo capaz de trazer à lembrança, de forma perene , suas riquezas humanas, culturais e ambientais. Lúcio Bemquerer conta que em uma de suas divagações sobre o que fazer por Grão Mogol, viu que as pedreiras vizinhas à sua casa pareciam com um presépio natural. Ao que ele concluiu: não, não parece um presépio, já é naturalmente, um presépio.”
Situada próxima a Montes Claros , em uma das serras da Cordilheira do Espinhaço, Grão Mogol, a 550 km de Belo Horizonte, é a mais setentrional das cidades históricas de Minas Gerais, nascida do garimpo de diamantes. Ou seja: é a que se situa mais ao norte do Estado, em um fim de linha. Os primeiros colonizadores a chegarem lá foram os da expedição de Francisco Bruzza Espinosa , em 1553. O bandeirante Fernão Dias Paes, que revirou o Brasil atrás de esmeraldas , sem encontrá-las , também vasculhou a região.
A obra em homenagem ao nascimento de Jesus está em uma área de 3.600 m2; encravada em um grande paredão de pedras. Do terreno não foi retirada e nem cortada nenhuma rocha. Foi inaugurado no dia 9 de dezembro de 2011.São 15 personagens do presépio. Todos esculpidos em pedra sabão ou moldadas no cimento. O trabalho é assinado pelos artistas mineiros Édson Novaes e Antônio da Silva Reis. O único presépio ao ar livre do mundo, levou oito meses para ficar pronto. Ao conhecer o presépio de Grão Mogol, o padre Bertram Pricelius, da Arquidiocese de Berlim, garantiu que é o maior do mundo , sem contar o fato de ser permanente e a céu aberto. O Presépio Mãos de Deus fortalece a fé dos cristãos, o turismo regional e estimula a economia; e para mim foi uma grande emoção trazendo as reminiscências de minha infância tão celebrada no mês de dezembro com a chegada do presépio.
Todo dia é Natal em Grão Mogol todo dia Jesus nasce ali;
Nasce entre as pedras, que àquele lugar circundam;
Nasce entre as orquídeas nativas, que embelezam-na.
Nasce no coração de um povo feliz, hospitaleiro.
Grão Mogol tem noite feliz sempre.
E a noite feliz convida uma manhã alvissareira,
Uma tarde fagueira.
E os anjos ali debruçados cantam sobre aquelas terras:
“Glória a Deus nas maiores alturas!”
E paz na Grão Mogol aos homens valorosos!
Filhos de uma terra ditosa, aprazível e dadivosa:
GRÃO MOGOL GENEROSA!