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Sexta-Feira,21 de Fevereiro
Vanessa AraújoJornalista, especialista em cinema e linguagem audiovisual

Lá e de volta outra vez

Publicado em 20/02/2025 às 19:00.

Outro dia, abri um serviço de streaming para assistir a um filme. Nada muito específico, só aquela vontade de ver algo novo. O problema começou aí: uma infinidade de opções, categorias, sugestões “feitas para mim”, mas nada que realmente chamasse a atenção. Dez minutos rolando o catálogo. Depois, mais quinze. E, quando percebi, já se passavam quase meia hora e eu continuava na mesma indecisão. No fim, acabei assistindo a algo que já tinha visto antes. Mais fácil, mais seguro, menos desgastante.

Curioso como a promessa da facilidade acaba complicando tudo. Antigamente, na época das locadoras, a gente saía de casa, pegava um ou dois filmes, e era isso. Diversão para o fim de semana. Podíamos até ver o mesmo título (eu mesma devo ter assistido a trilogia “O Senhor dos Anéis” mais de 20 vezes), mas, pelo menos, não perdia tanto tempo procurando a “melhor” opção. Hoje, temos tudo ao alcance de um clique, mas esse “tudo” parece se multiplicar e, paradoxalmente, nos paralisar. 

Hollywood, nos últimos anos, também parece estar presa nesse looping, revivendo histórias que já deram certo antes. Reboots, remakes, sequências de filmes lançados há décadas dominam as grandes estreias. Nesta semana, em um dos cinemas da cidade, são oito cartazes. Metade dos títulos são sequências de histórias já consolidadas, com grande público e, principalmente, grande faturamento. O cinema tem reciclado o passado e servido versões atualizadas do que já conhecemos. Nostalgia? Falta de criatividade? Ou apenas uma aposta segura no que já provou ser lucrativo? 

Olha só. “Perfeitos Desconhecidos”, dirigido pelo italiano Paolo Genovese em 2016, tem quase 30 remakes, realizados em diversos países (incluindo o Brasil), e entrou até para o Livro dos Recordes. A trama é simples. Um grupo de amigos se encontra e um deles tem uma brilhante ideia: todas as mensagens recebidas devem ser lidas em voz alta, e as ligações serão feitas pelo viva-voz. Uma discussão interessante sobre o que é vida social e vida privada. Japoneses, poloneses, noruegueses, árabes... Todo mundo se identificou com a história e quis replicá-la em suas próprias realidades.

É compreensível. Em tempos de mercado instável, apostar no que tem público garantido parece uma escolha sensata. Mas, ao mesmo tempo, essa repetição levanta a questão: será que estamos nos acomodando ao conforto do já conhecido? Assim como na escolha do filme no streaming, talvez seja mais fácil ir pelo caminho seguro do que arriscar algo novo. Talvez a indústria só esteja refletindo o que já fazemos sem perceber (ou já percebemos e não fazemos nada a respeito).

Aí você liga a sua TV, computador, ou até mesmo o celular, e se depara com vários lançamentos. Doramas, séries, filmes feitos especialmente para o streaming. Você lê a sinopse, procura por rostos conhecidos. Procura indicação nos sites especializados ou em listas feitas em comunidades e fóruns, e ali estão sempre as mesmas produções. Mas, veja bem, eu só vi duas versões de “Perfeitos Deconhecidos”. Ainda tenho muitas para conferir, inclusive a brasileira. Talvez seja mais sensato ficar com o que é perfeitamente conhecido por mim. Aliás, a Terra Média me espera em uma versão estendida com quase 12 horas e 17 Oscars. Amanhã eu tento algo novo.

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