Há pessoas que são incisivas em suas colocações, por isso falam com firmeza, ênfase e racionalidade. As que agem assim são vistas como frias, corajosas e seguras de si. Realistas, apresentam-se em várias graduações, podendo equilibrar-se em um fio de navalha. Desviam-se ora para um lado ou ora para o outro, entre o severo e o respeitoso. Enquanto umas são mansas para contar exatamente como as coisas são, na outra ponta há quem seja sem traquejo. O senso de realidade pode ser adequado para a pessoa falante, mas pode ser penoso para quem a ouve, especialmente aquelas sensíveis que preferem a verdade em doses menores, com intervalos e preparos.
Há ouvintes que gostam de levar a pancada de uma só vez, mas parte deles prefere receber as notícias boas à vista e as ruins à prestação. O desconforto se dá quando estão cara a cara alguém que gosta de falar de uma vez, e outro que quer um relato fracionado, com preparativos. Os que falam de forma dura, podem sentir culpa por terem traumatizado outrem, mas há os que fazem disso uma forma de poder.
Saber dar notícias ruins é uma arte, principalmente quando se trata de diagnósticos onde ter esperança e fé alteram o resultado do tratamento. Somos apenas humanos e descobrir que temos uma doença grave que nos ameaça desestabiliza o mais seguro dos mortais. Enquanto há quem diga que quer saber tudo, outros dizem “quero mais é me esquecer que tenho isso”. Algum convívio e conhecimento de características psicológicas mais marcantes não permitem saber o quanto o outro suportaria a verdade.
Contar para uma pessoa muito próxima da vítima sobre um desastre fatal ou uma morte natural súbita deveria ter curso preparatório. Temperar a voz de forma adequada evitando-se dizer no peito e na raça deveria ser a norma. Dar má notícia, principalmente do fim de pessoa jovem que não estava doente, é duro para todos. Alguns acham que têm de sobra o famigerado bom-senso. O julgamento é individual, não universal. As culturas possuem valores diversos, e adiar pode ser importante, mas o mal que vem disso pode ser ainda pior.
Ocultaram que o filho mais novo de uma senhora idosa com demência senil inicial, havia sido internado com febre alta, prostração em decorrência de uma infecção urinária. A evolução foi ruim, piorou para quadro séptico, sendo levado ao CTI. A doença era segredo, mas quis o destino que à filha controladora fosse dada a tarefa de convidar a mãe para o enterro do filho, que, a essa altura estava morto. Saber desde o começo não teria sido menos dramático?
Uma mescla de verdade e fantasia precisa existir em determinadas horas. Nesses casos, contar de forma leve, amenizando os acontecimentos, falando por etapas, dará tempo de a pessoa se preparar para a frase final. No meio do relato, o ouvinte busca em seus recursos psíquicos condições de tolerar a situação. Dessa forma conseguirá suportar o fato trágico. Parte de nós não consegue engolir a verdade nua e crua. O eufemismo é uma maneira de suavizar a notícia vestindo-a e começando seu cozimento. Haja preparativos!