Iniciada a amizade, algum dia os velhos amigos, mesmo jovens, serão cada dia mais velhos e o interessante é que aqui a palavra velho tem conotação positiva. Amizade é um sentimento que não tem data de começo, se iniciando à revelia de todos. As afinidades vão se revelando, assim como as divergências. Faz bem à amizade a passagem do tempo por torná-la inspiração para um afeto que pode ir além do amor entre irmãos.
Amigos são escolhas após certo grau de acaso. As amizades iniciadas na infância e adolescência costumam ser as mais sinceras, porque são desvestidas de interesses, trocas desproporcionais e oportunismos. As pessoas vão se agregando e aprofundando cada vez mais seu bem querer.
As amizades fortuitas mal podem receber o nome de amizade e tendem a não prosperar. São aproximações que ocorrem em viagens, no trabalho, pós-graduação, ações religiosas ou solidárias ou políticas casuais, clubes de serviço ou agremiações ou vizinhança na vida adulta. Há uma interdependência em vigor, e assim, passada a conveniência, quem era íntimo se afasta completamente.
Há aqueles que parecem amigos, mas que, de repente, por inveja derrubam o outro e a traição machuca fundo, sendo irremediável remendar esse rasgo na confiança.
Os bons e os maus existem em todo lugar e as características de comportamento precisam ser respeitadas dentro dos limites da ética, assim, questões de falta de caráter costumam ser imperdoáveis.
Amigos apartados tempos antes, nesse mundo globalizado e superconectado têm a oportunidade de se reencontrarem. Essa é outra riqueza da tecnologia. E, mesmo sem bebida alcóolica, em alguns minutos a conversa flui agradável, em especial quando viveram juntos fortes emoções.
O mais interessante em falar com velhos amigos, aqueles da juventude, é que se pode rever fatos pretéritos ou costumes do passado e com isso trazer de volta o ambiente e a cumplicidade que só esse tipo de amigo pode fazer acontecer.
Algumas vezes somos melhor compreendidos pelos velhos amigos que pelos familiares. Aqui ser velho é joia preciosa, é tesouro, é fortuna e para que não desmorone é preciso dar-lhe atenção, não apenas pela presença frequente, mas também cultivar a amizade regando-a, adubando-a e tirando os espinhos e as ervas daninhas para que não seja sufocada.
Velhos amigos telefonam tarde da noite para conversar sobre sentimentos importantes, crises existenciais e sabem que quem os escutam os entendem, aceitam suas fortalezas e fraquezas, mesmo que falem línguas diversas e defendam pontos de vista religiosos, futebolísticos e políticos antagônicos.
Como chegaram até aqui as pessoas que não têm amigos? Enquanto amores vêm e vão, velhos amigos estão disponíveis e voltam ao estado de antes mesmo após uma discussão inflamada ou uma fatalidade global como o afastamento de dois anos devido à pandemia de covid.
Você não tem visto mais ninguém? Calma! Longe dos olhos, perto dos dedos. Algumas letrinhas digitadas e o afastamento involuntário se desfaz. É tomar um café juntos e o companheirismo voltará, para felicidade de todos.