Mara Narciso

Tributo ao bailarino Igor Xavier

Publicado em 13/11/2023 às 23:19.

Neste mundo ultraviolento até a violência quer se esconder debaixo da cama. Depois da mentira, o ódio domina a cena. Na contramão da prática do mal, o poeta Eduardo Waack fez um curta-metragem em homenagem ao ator, coreógrafo e bailarino Igor Xavier, pessoa de mente libertária. A intenção foi honrá-lo amorosamente, alguém cuja vida foi ceifada pela homofobia - ódio aos gays, uma confissão que, então, atenuava o crime.

Igor fora buscar livros no apartamento do homem que o matou e, com ajuda, jogou seu corpo à beira da estrada. Tinha 29 anos, quando foi calado com cinco tiros em 2002. Ricardo Athayde confessou o crime e dos 14 anos a que fora condenado 11 anos depois, cumpriu dois anos e meio.

Eduardo Waack diz: “A dança infinita de Igor Xavier na espiral do tempo! — Existem seres que passam pela existência como um clarão, um meteoro, um espanto. Têm uma missão a cumprir, não se detêm no caminho. A vida humana é semelhante a uma ponte: chegamos, atravessamos, partimos. Deixamos as nossas marcas no espaço físico, é um alumbramento que permanece no plano espiritual”.

Igor Xavier deixou lembranças trazidas ao público nesse filme de 19 minutos, que começa com três disparos e traz depoimentos, fragmentos de suas apresentações e pinturas clássicas simulando flutuação, movimento e dança.

Suas coreografias e representações continuam despertando interesse na celebração da sua memória. Coreógrafo talentoso, para ele bailar era tão natural quanto andar. Seria exagero dizer que era um bailarino perfeito, mas não que era um bom profissional em constante aperfeiçoamento. Muitos dos seus projetos não se concretizaram. As vidas despedaçadas dos seus amores ficaram pelo caminho.

Tantos quantos o viram dançar ou com ele dividiram o palco falam em luz, em brilho, em presença. No curta-metragem, sua habilidade em representar pode ser vista em uma performance na Unimontes. Os estudantes conversavam durante sua apresentação no centro da sala; não lhe deram a devida importância por total incapacidade de avaliação. Nada diz, mas este é o ponto alto do trabalho de Waack.

Sua obstinada mãe Marlene Xavier não permitiu que a memória de Igor morresse com ele. Com a campanha “Igor vive!” caminhou muitas maratonas falando seu nome, mostrando sua imagem e sua dança nas escolas, faculdades e ambientes onde houvesse quem lhe quisesse ouvir. O objetivo, além de mostrar ao público quem havia sido seu filho, cuja vida fora arrancada violentamente, era trazer pessoas para a sua causa, até ver o condenado na prisão. Devido aos inúmeros recursos conseguidos, o homem que matou Igor Xavier morreu de causas naturais em casa, com tornozeleira eletrônica.

Marlene Xavier, em sua via crucis perdeu a saúde, mas se sente recompensada em sua luta quando vê homenagens feitas ao filho. A dor dessa infelicidade não acaba, mas o reconhecimento público, de alguma maneira, a consolam.

Como vizinha da família, vi apresentações de Igor Xavier. Quem quiser vê-lo em ação, digite em seu navegador o link: https://www.youtube.com/watch?v=vfcdxPnbtvc

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