Nada como anos emendados para vermos superações e tempos felizes. Há um ano, o artista plástico Sérgio Ferreira criou a ambientação do 38º Psiu Poético. Participei da elaboração da ideia tornada concreta, e senti uma melancolia no ar. Em agosto deste ano, soube estar sendo programada uma apresentação musical com exposição de arte. Recebi o convite por áudio através de um tom de voz seguro; a cristalização desse projeto maior tinha por objetivo deixar para trás uma fase em que o pintor de telas se reinventava e criava, mas o processo de criação parecia lhe doer.
Nascido em Patrocínio em 28 de março de 1956, Sério Ferreira veio para Montes Claros com sua numerosa família de onze filhos em 1970. Conheci Serginho, que me dou ao luxo de chamar pelo diminutivo, quando tínhamos por volta de 16 anos. Ele morava na Rua Padre Augusto, próximo ao Hotel Nobre, e seu pai tinha uma fábrica de sapatos. Não me lembro exatamente, mas pelas circunstâncias, talvez tenha sido Cristina Mesquita a apresentá-lo a mim e à Dulce, pois ela morava a três quadras da casa de Serginho – um sobrado verde, quase na esquina. Acabamos por formar um quarteto que se reunia diariamente na casa de Dona Ismar, a mãe de Dulce. Ali conversávamos, filosofávamos, ríamos, ouvíamos música, víamos revista de decoração, tomávamos café com bolo e pão com patê, feitos pela dona da casa, que trabalhava em seu escritório de contabilidade. Serginho tocava violão, cantava e desenhava para nós.
Andávamos os quatro pelo centro da cidade, espiando o mundo. Não fazíamos planos. Faculdades e casamentos acabaram por nos separar por um quarto de século; voltamos a nos falar, porém, esporadicamente. Serginho se tornou um artista plástico respeitado e reverenciado em vários lugares do Brasil, e também fez sucesso em experiências internacionais; compõe músicas, faz discos, dá entrevistas.
No evento de 25 de setembro chamado “Sérgio Ferreira e convidados – apresentação musical”, a banda constou dos músicos Jackson Kundera no baixo, Flávio Fernandes na bateria, Carlos Soyer na guitarra, Marcelo Andrade no sax e flauta, Wesley Sousa no violão, Júnior Rocha no teclado e participações de Jorge Takahashi e Elcid Monteiro. Sérgio Ferreira gostaria de expor mais vezes esse seu lado musical, por não o ter exercido tanto quanto a pintura, daí a importância daquele momento. O Pátio Flamenco, através de Elisa Pires e João Carvalho, mostrou sua dança. Junto à decoração do Bar Godofredo em festa, esculturas e telas da atual fase brilhavam, enquanto a marchand Rose Lafetá circulava por entre as mesas.
Muito querido e regiamente festejado, Sérgio Ferreira tem um círculo de amizade amplo e diversificado. Lá estavam muitos conhecidos a disputar o espaço, sua atenção e seus abraços. Casa cheia, reserva de mesa esgotada há tempos, o clima de celebração tomou conta do lugar com burburinho, pessoas circulando e números musicais se sucedendo.
Eventos culturais acontecem na cidade e a divulgação não chega a todos os interessados. Esta chegou para lotar a casa e o coração de emoções.