Os canhotos não eram aceitos e sim obrigados a ocultar sua condição de mão esquerda dominante, porque a sociedade não entendia essa “escolha” pelo lado avesso das coisas.
Cristo não falou na Bíblia: “Levanta-te desta pedra, Pedro, porque há cem anos aí se sentou um leproso”, mas nela diz que estão mortos pobres, leprosos, cegos e quem não tem filhos. Termos como tuberculoso, canceroso e aidético foram proscritos por serem discriminatórios. “É sensato excluir palavras carregadas de significados pejorativos, de rejeição, de abandono e execração” (Luteranos).
A informação tira palavras do limbo. Não falar em velhice nem assumi-la estimula o etarismo. Negar o racismo é abrir uma avenida para tolerá-lo (refugiados ucranianos bem recebidos e africanos rejeitados). É preciso falar de temas difíceis e, ainda que se rotule, nomes adequados reduzem o preconceito.
Há 18 anos escrevi “Segurando a Hiperatividade”, com a história do meu filho Fernando Yanmar, para denunciar a discriminação sofrida por ele, tendo matrícula negada na escola com quatro anos de idade devido à hiperatividade, impulsividade e desatenção. Minha percepção foi escrita de forma sincera e verdadeira, sem cortes, como eu me lembrava e a senti, contando com a ajuda do protagonista, que me falava nomes, datas e modas. Na época eu semeei a não discriminação, o não preconceito, a não exclusão. Falar do TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade abertamente foi o que fiz para mostrar o diferente e lhe garantir aceitação e respeito.
Eu falei de TDAH quando as pessoas nem sequer pensavam no assunto, que então se chamava “Disfunção Cerebral Mínima”. Recebi pedradas por expor meu filho, rotulá-lo, falar de um transtorno mental quando todos que os tem –, não conheço uma família que não tenha vários transtornos mentais -, os ocultam. No dia seguinte ao lançamento do livro, quando três pessoas não dormiram, por não conseguir se despregar da velocidade em que o hiperativo agia, telefonaram-me às 6 horas da manhã, dizendo-me louca.
Por tudo isso, e pela segunda vez, no dia sete de abril, dentro da programação do FLAM – Festival Literário do Autor Montes-Clarense, lançarei a segunda edição corrigida e ampliada de Segurando a Hiperatividade, às 20h no Centro Cultural Hermes de Paula. FLAM FESTIVAL, VEM!