Mara Narciso

Quero um abraço!

29/03/2022 às 00:02.
Atualizado em 29/03/2022 às 10:55

Gestos como abraçar e beijar são confissões de afeto mais marcantes que um afago. O cafuné é intimidade. Massagear os pés é cumplicidade. Aniversário é dia de abraçar, e quando se manda lembranças se diz: diga que lhe mando um abraço! E vêm as qualificações para amplexo: forte abraço, meu abraço, um bom abraço, ou abraços genuínos, para finalizar um contato. Sem se esquecer de “aquele abraço”, cunhado por Gilberto Gil, em 1969, ao sair da prisão em Realengo, onde ficou por dois meses, antes de se exilar em Londres. Seu grito de guerra liberta, festeja, protesta e se despede.

A pandemia transformou o abraço em coisa feia, quase pornográfica, algo que não se pede, que não se dá, que não se impõe. Muitos fogem do abraço, recuando temerosos, num gesto visto com reservas. O esperado seria não impor proximidade, imprudentemente. Da mesma forma que a pessoa de sente devassada quando sua meta leva um gol, também se pode sentir invadido quando alguém chega abraçando.

Há necessidade primordial de pessoas por perto, irradiando ondas eletromagnéticas umas nas outras para ser mantida a vitalidade geral, mental, da pele e dos cabelos. Durante o lockdown, alguns se sentiram definhar, se apequenar fisicamente, se reduzir, encolher, com visível redução da massa muscular, mesmo com alimentação adequada e exercícios caseiros, danças e outras tentativas de se manter a tona, pela falta da energia alheia.

Muitos desenvolveram ansiedade e até fobia social com a pandemia. Aos poucos, se vão voltando a um convívio que ainda é difícil para a maioria das pessoas. Poucos se sentem à vontade para abolir a máscara, mesmo quando ela não é exigência. Estar sem o artefato incomoda os receosos.

Abraço de mãe é colo quando a criança pequena cai. Abraço é pouso, é aconchego, é segurança, é garantia de serenidade da qual estamos privados há dois anos.

Se antes da vacina o abraço foi perigoso, vacinados e com os devidos cuidados, a procura por essa amorosidade vem chegando devagar. Por outro lado, o abraço num momento de extrema dor é catarse, salvação, refúgio, perdão, solidariedade. O abraço, nesse caso, é pacificador, é curativo de feridas de toda uma vida. É verdade e dou fé! E que o amplexo virtual, se torne físico, oportunamente, trazendo de volta alguma humanidade.

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