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Domingo,14 de Setembro
Mara Narciso

Quem está com a razão?

Publicado em 08/09/2025 às 19:00.

O que importa não é ter razão, mas ser justo. O reconhecimento de uma injustiça eriça os pelos de gatos e gente. O mundo anda tão injusto que não há um dia em que não se sinta mal com a proliferação de fatos ignóbeis.

Um político de destaque fez recente declaração de que não acredita na Justiça. Em que irá acreditar caso vença as eleições? Como será governar esse país da mente dele, onde o judiciário não merece crédito? O que será colocado em seu lugar?

Desde que foram inventadas as fakes news e as narrativas, que os fatos documentados por foto, vídeo e áudio não importam e sim o anseio de grupos, por isso correm soltas opiniões sobre alguma criação mentirosa, que acaba circulando pela internet impulsionada por robôs. Como milhões de pessoas recebem essa versão, ela passa a ser verdade. Uma pessoa com a mesma informação acaba por validar a “opinião” da outra. Os consumidores desse combustível inverídico só convivem com quem consome o mesmo canal mentiroso, acredita naquilo e assim, com a mente tranquila é capaz de ofender, matar, morrer e passar vexame acreditando que sua veemência de crente numa fake news salvará o mundo, mas se trata apenas de mais um vexame. Para não passarem por confronto mental, evitam canais que disseminam o oposto as suas crenças.

A bolha da inverdade é impenetrável, assim, o grupo se aferra na convicção de que só ele conhece a realidade e os demais vivem em total escuridão. Observa-se há anos que a pós-verdade, ou seja, a mentira, ganhou ares de verdade incontestável e por isso floresce em todos os lugares.

Lá como cá, é impossível furar a bolha e ser ouvido. Convencer alguém de alguma coisa diferente é improvável. Melhor nem tentar. Os ânimos mais se exaltam quando vêm chegando as eleições. Os embates irracionais e ofensivos que se vê nas redes digitais mostram o alto nível de ódio entre a direita e a esquerda. E continuará assim, com cada lado criticando o lado oposto, sentindo-se certo em fazer prosperar ambientes hostis. Há pessoas pacientes que se decidem por argumentar com voz suave, mas para quê? “A diferença entre o fanático e o cego, é que o cego sabe que é cego”.

No pensamento surge a imagem de duas meninas. São pequenas e disputam uma boneca de pano, com corpo branco, cabelos pretos de lã e vestido xadrez. Sabem o que querem: derrotar quem pretende ficar com sua boneca que na cabeça delas é das duas em separado. É minha, diz uma. É minha, diz a outra. Puxa daqui, puxa dali, com a boneca no meio do round com cada um de seus braços na mão de uma menina. A disputa é tão feroz e gera tanta força, que a boneca se rasga ao meio. Destruída a boneca, ninguém a terá, e assim termina a briga.

A política nacional segue na mesma toada. Houve um tempo em que se ver enganado era motivo de constrangimento. Hoje, há grupos que disso sentem orgulho, o que é desconcertante para todos os demais. A frase de endereço certo, acaba servindo aos dois discursos. Como o inferno são os outros, todos e qualquer um se sentem donos da verdade, mas afinal, o que seria a verdade?

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