Mara Narciso

Primeira página de jornal nenhum

Publicado em 18/11/2025 às 05:56.

Não é blefe! O terceiro livro de Georgino Neto fala de amanheceres comuns, sem sugerir algo especial, na mesmice de acordar, se ver vivo, e pôr-se a filosofar. Como se trata de uma rotina que poderia ser massacrante, o que não é, não seria assunto para nenhum jornal, restando ao insignificante ficar quieto no segredo. No entanto, há um vulcão impulsionando o autor que escreve um poema por dia, e diz modesto: “escrevo muito, mas em quantidade, não em qualidade”. No momento, publicou “Primeira página de jornal nenhum” e tem prontos mais dois livros, quando a intenção seria publicar um livro por ano.

Assinava seus poemas como “Tabacaria”, um pseudônimo, um disfarce para autor oculto. Não é fácil ser o terceiro Georgino Jorge de Souza da família, sendo os dois anteriores avô e pai, bons escritores, além de terem significativas atribuições. Demorou a perder a contenção para escancarar seu nome. Assim, com extensa produção, selecionou e publicou “Poesia ainda que à tardinha”, estampando um pôr do sol. Pediram outro livro e, obediente, lançou “Outro Livro” e agora esse. Os dois primeiros foram lançados no Bar Sancho’s e no FLAM – Festival Literário do Autor Montes-clarense, e este no Museu Regional e no Psiu Poético.

Nas dependências do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, no dia 12 de novembro, os escritores Olden Hugo Farias, Márcio Adriano Moraes, Georgino Neto, Damião Cordeiro, Maria Cida Neri, Karla Celene, Mara Parrela e eu fomos recebidos pela Turma de Dicção da professora e escritora Cyntia Pinheiro. Anteriormente, nossos trabalhos foram gravados em vídeo pelos estudantes que, naquele momento nos apresentou música padrão ouro e nos fez perguntas, o que muito nos dignificou.

Nesse encontro cultural luxuoso, conhecemos o momento criativo de cada um de nós, e foi aí que eu soube como cria poemas Georgino Neto. Sua produção altamente poética vem de expressões ou palavras anotadas, ele disse, e eu continuo, saem em escritos curtos, que podem ter abertura banal, seguida por sua marca, que é um fechamento que ameaça desapontar, mas cresce na surpresa. Seu baú é lotado de versos viris, assim consegue, ao fazer poemas e publicar nas redes, atividade suspensa no momento, atiçar a curiosidade de quem lê.

A riqueza existencial do autor faz a anotação começar com certo ar de desprezo pelas pequenezas rotineiras e consegue inverter a situação de uma forma quase mágica, ainda que possa ser melancólico por todo o percurso. Faz o leitor sentir o mesmo que sentiria se a cada vez que olhasse a velha fotografia de uma pessoa querida, visse e sentisse algo novo, que valesse a pena ser revisto e revivido.

De maneira simplista, “Primeira página de jornal nenhum”, enriquece o cotidiano e o ordinário e, ao se seguir os passos do autor, que faz do cheiro de café coado uma festa silenciosa, nota-se que acaba por alegrar seu coração e o dos leitores, enriquecidos com o compartilhamento, no começo, com uma ponta de tristeza e por fim em potente celebração. Eis o segredo de Georgino Neto!

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