Não sou mal-humorada, mas tenho pouco senso de humor. Há tempos observo nos noticiosos de televisão as diferentes entonações dos apresentadores ao dar boa ou má notícia, exigindo-se deles serem quase atores, nessas horas.
Após a morte de uma personalidade, informação no último bloco, o tom fúnebre, por óbvio se impõe. Os depoimentos dos amigos do falecido arrancam lágrimas dos sentimentais. Os desastres naturais recebem o mesmo tratamento. O noticiário termina sem música para obter mais efeito dramático.
Por outro lado, a reportagem esportiva é narrada sorrindo, algumas vezes, exagerando-se no entusiasmo e a fala pode soar falsa ou até mesmo patética. Esporte é boa notícia? De onde veio a ordem para sorrir, e por quê? Isso lembra a obrigatoriedade atual de foto com sorriso.
Na internet, ouvi narrativas futebolísticas ao longo do tempo, desde a partida final da Copa do Mundo de Futebol de 1950, no Maracanã – Estádio Mário Filho, entre Brasil e Uruguai.
Há poucos anos, ouvi tal jogo completo na web e escrevi a respeito. O empate favorecia ao Brasil que perdeu de 2x1 de virada. O palavreado de então, 72 anos atrás, soa estranho como se fosse outra língua. A bola era chamada de balão, couro e pelota.
Ouço futebol no rádio, mas sou mesmo da televisão e, ainda hoje, vejo as finais dos campeonatos. Além do imprevisível vocabulário de outras eras, a maneira de entonar a fala, que, no rádio, precisa ser ágil e rápida, era o oposto de hoje.
Mesmo na hora do tento, quando o narrador esportivo mostrava alegria pelo seu time, o grito de gol era curto, contido, quase sem emoção.
Comedidos, tempos atrás, homens de boas vozes foram imortalizados no rádio, hoje motivo de estudos em TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, dissertações e teses.
Lembro-me de nomes como Jorge Cury e Waldir Amaral e suas inesquecíveis maneiras de narrar. Este último era goiano, radicado no Rio de Janeiro e, na Rádio Globo narrou oito copas do mundo e o milésimo gol de Pelé em 1969.
Naveguei em cada época em busca de como se deram as mudanças, e as pude observar, pela audição sem imagem, numa vibração crescente, já bem nítida na Copa de 1970, em especial na hora de gol do Brasil, entoado na forma prolongada. À medida que as décadas foram avançando e se aproximando dos tempos de hoje, mais alegres, barulhentos e aos berros foram ficando os narradores.
O exagero não acontece por acaso e minha impressão tem razão de ser. A dinâmica da narrativa, velocidade da fala, altura e duração do grito de “gol”, ampliou-se em tom e euforia, contaminando os repórteres esportivos. Nas arquibancadas, os torcedores trocaram o rádio pelo celular, e têm explicação de lances duvidosos pela rádioweb ao vivo.
Em busca de uma linguagem vibrante nos estádios, para motivar a torcida, as narrativas são esmeradas. A carga de emoção do gol tem que durar e, para tanto os gritos foram se tornando mais longos, como se fossem o agudo de uma soprano.
Para fazer gol e para transmiti-lo, haja fôlego!